Comunicado Importante - 3 contos do blog serão publicados

É com muito orgulho que venho anunciar, que eu Debby Lennon e Sandra Franzoso iremos participar da antologia Jogos Criminais. A Antologia será lançada no dia 15/01/2011, Na Biblioteca Viriato Correa, situada a Rua Sena Madureira, 298 - Vila Mariana. Meus contos Anjo Perdido e Joana e Maria, já foram postados aqui no blog e agora está aperfeitoado e com mudanças no final,o mesmo acontece com o conto O Noivado da Sandra. Maiores informações em breve.

domingo, 9 de agosto de 2009

Desconhecido

Prezados,

Na condição de convidado, trago-lhes um conto curto e escrito fora dos meus padrões normais de escrita. Tentei, com esse conto, escrito já há algum tempo, exercitar frases mais curtas, a exemplo de outro postado em uma coluna do Norberto/Vic em ocasião diversa.

Não é exatamente sobre o outro lado da mente, mas creio adequar-se ao inesperado, sempre ontido naquilo que não conhecemos plenamente.

Abraços a todos.


DESCONHECIDO

Já era tarde, e as árvores que passavam pelas janelas do ônibus eram tão somente linhas um pouco mais negras em meio à escuridão da noite. Fechou o livro e apagou a lâmpada acima de sua poltrona. A cabeça agora pendia para o lado direito, e a mente voltava-se para a mata fechada que ela pouco conseguia ver naquela altura da noite.

Sempre que viajava para visitar seus pais, pensava, ao olhar para aquela vegetação já familiar, sobre o que poderia haver por detrás das folhas verdes – apenas sombras à noite – que beiravam o caminho da estrada.

Não era frio, mas precisou interromper seus pensamentos para pegar um casaco na mochila. Olhou para a poltrona ao lado. Ficara aliviada quando a senhora cheia de histórias e valores dormira. Somente assim pôde começar sua leitura sobre Dr. Jeckill e Dr. Hide, a dicotomia médico/monstro que a fazia pensar no que mais havia por trás das pessoas. Onde estaria o lado monstro da "quase-freira" que dormia no banco ao lado?

O ônibus estava lotado, e a época da Páscoa de fato movimentava as estradas. Não sabia se eram as pessoas que movimentavam as rodovias ou se era a própria Páscoa que agia materializada sobre o asfalto. Lembrou do garoto que empanturrava-se de chocolate no início da viagem. “Teria ele já vomitado?”. Não. Precisaria de mais alguns bombons, mas não tardaria.

Por um instante, quis saber onde estava o outro lado das pessoas que lhe cercavam. Olhou novamente para as árvores e esqueceu da idéia. Retomou o pensamento sobre o que havia após as árvores. O que haveria do ouro lado?

Com os pensamentos misturados à escuridão das árvores, estava demasiadamente concentrada para perceber que o garoto sujo de chocolate que corria ao banheiro não queria vomitar. Se visse aquele jovem rosto por uma fração de segundo, teria reconhecido o sinal do medo.

Foi quando pareceu ter visto uma sombra mais escura na mata que as luzes do ônibus se apagaram. Ouviu-se um único grito vindo das poltronas da frente. O medo a fez desejar que as luzes não voltassem.

Em princípio, sentiu-se aliviada por não passar pelo estranho evento sozinha. Havia mais algumas pessoas com quem compartilharia aquele momento. Em seguida, frustrou-se por não saber como os outros reagiam. E por alguns segundos ninguém ousou pronunciar uma palavra sequer.

Ainda não era conhecido o motivo da escuridão, mas voltou a concentrar-se no interior do ônibus quando uma senhora gorda ergueu-se da poltrona n. 4 e bateu secamente na cabine do motorista, exigindo explicações. Não houve resposta. Se a senhora houvesse permanecido na poltrona, talvez não tivesse o mesmo destino a que foi entregue motorista.

Bruscamente, alguém lhe atacou pelas costas, vindo de algum ponto desconhecido no ônibus, e o grito que se ouviu depois ficou claro até mesmo para quem jamais havia visto alguém morrer – e ver, naquela altura da noite, não era privilégio de muitos.

O pânico exalava de cada corpo ainda vivo, e os gritos de pavor seguiram o grito de morte. Um a um, os passageiros foram ecoando o que começou nas poltronas da frente. Não sentiu medo de morrer. Sentiu medo de ser a última a morrer. Não se importava com seu destino, desde que fosse igual ao dos demais.

De fato, ninguém foi poupado. As lágrimas de sangue não demoraram a escorrer de seu pescoço, e a imagem que a garota pôde ver em seus últimos reflexos foi a de um corpo enorme caminhando – como quem volta para casa – em direção à mata fechada.
_______________

Leonardo Fripp/Croatan

2 comentários:

Sandra Franzoso disse...

Arrepiante!

Debora Gimenes disse...

Excelente post Léo. Aquele corpo tanto pode ser de um monstro, como de um homem grande e atordoado. Me lembrou um pouo do Jason de sexta-feira 13.
beijos

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