Comunicado Importante - 3 contos do blog serão publicados

É com muito orgulho que venho anunciar, que eu Debby Lennon e Sandra Franzoso iremos participar da antologia Jogos Criminais. A Antologia será lançada no dia 15/01/2011, Na Biblioteca Viriato Correa, situada a Rua Sena Madureira, 298 - Vila Mariana. Meus contos Anjo Perdido e Joana e Maria, já foram postados aqui no blog e agora está aperfeitoado e com mudanças no final,o mesmo acontece com o conto O Noivado da Sandra. Maiores informações em breve.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Lava-pés

Fábio olhou para seu relógio de pulso. O que viu, não foi nada bom – Quatro da madruga. Vai dar merda de novo.
Seus pensamentos não eram totalmente embriagados, porém nem absolutamente lúcidos. Tinha consumido uma boa quantidade de cerveja – E um conhaque! - para calibrar a libido. As sexta-feiras tinha essa liberdade provisória. Ou tivera, até que Marina o obrigara a confessar a infidelidade praticada – Nossa, que dia infernal...
Ainda eram-lhe vivas a lembrança do episódio. Do choro da mulher, das perguntas intermináveis, dos tantos “por ques” aflitos e de suas súplicas por compreensão e perdão – Porra, era um homem – e suportara bem a condição de casado por sete anos. Mas naquela noite, após infindáveis cervejas e gargalhadas entre amigos, Glorinha pareceu-lhe irresistível – Destino mesmo.
Uma mulher vulgar, que vestia-se apenas para se expor, para ressaltar sua fartura de carnes – Gordinha sim – Vulgar, falava obscenidades que nem os marmanjos se atreviam. Insinuante como uma serpente, cheia de toques com as mãos e resvaladas provocantes, tão devassa em pensamentos e atitudes. Tão diferente da sensatez e inteligência de Marina - Com resistir?
Sóbrio, atravessava a rua e fingia não vê-la. Mas após o consumo de álcool, preso ao mesmo recinto e conversas... - Ah, Glorinha... que trepada infernal que tivemos! - a mulher era mesmo diabólica numa cama. Todos os desejos satisfeitos, todas as curiosidades saciadas. E além dos limites, um quarto de descobertas pecaminosas.
Não teve como Marina deixar de perceber. Por mais que preferisse não tomar ciência do fato, Fábio mudará a olhos visto após o início de seu romance com Glorinha.
Marina até que tolerou o comportamento do marido por alguns meses. Foi vendo as noitadas de cerveja invadirem os dias úteis, os horários de retorno cada vez mais distantes. Até que algo se rompeu dentro dela. Tinha que saber, tinha que entender o porquê, o que faltava nela, Marina, como mulher?
Mas era fato sepultado, julgava Fábio. Após aquela noite de acertos de contas, há oito meses, as coisas voltaram a normalidade. Fábio ia ao trabalho, voltava para casa. Jantava e assistia TV com a esposa. E até o relacionamento sexual entre eles foi reavivado, por algumas semanas. Como nos tempos de namoro, faziam sexo todos os dias. Até duas vezes por noite – Se bem que... - Mas tinha que se acostumar. Nenhum prazer ou loucura valia a companhia de Marina. Uma mulher bela, dedicada, inteligente e fiel – Sim, principalmente fiel.
Fábio abriu a porta com todo o cuidado, evitando ao máximo qualquer ruído. Mesmo desconfiando de que nada lhe adiantaria tanto silêncio. E suas suspeitas estavam corretas.
Marina estava sentada no sofá da sala, abajur aceso. Fábio tentou ver se os olhos dela estavam inchados, por tanto chorar. Mas não. Apenas o olhava, serena.
- Marina, eu sei o que você está pensando. Mas...
- Pára, Fábio. A gente já teve nossa conversa. Você não precisa dizer nada. Alias, você não precisa nem inventar nada. Porque no mínimo, eu mereço a verdade. Fiz por merecer. Por meses. Por te tolerar, por suportar seu hálito de cerveja, seu cheiro de perfume barato. O sabor de sexo vulgar em sua boca...
- Marina...
- Ah, cala a boca, e vem dormir. Quando você estiver sóbrio, quando tiver um mínimo de vergonha na cara, conversaremos. Se... ah, deixa. Vamos dormir e amanhã veremos como fazer.
Dito assim, levantou-se e caminhou para o quarto. Fábio atrás, como um menino pego em flagrante delito pelos pais. Cabeça baixa, mudo, envergonhado – Que merda que eu fui fazer, Meu Deus... - lamentava-se em pensamentos.
No quarto, Marina tirou a camiseta e jogou-a no chão. Fábio ficou a admirá-la em sua nudez. A pele bem clara, contrastante com os cabelos negros e os lábios vermelhos. Olhos de um mel profundo. Nem magra, nem gorda. Seios médios, ligeiramente caídos pela ação do tempo. Mamilos rosados, abdômen quase inexistente, quadril estreito, porém acentuado na cintura. Enfim, uma mulher bonita, agradável de se ver – E decente - muito mais do que Glorinha, certamente – Ah, Glorinha... por que você teve que me provocar novamente?
Marina deitou-se na cama e olhou para Fábio – Então, não vem?
Fábio despiu-se, entre uma e outra cambaleada e deitou-se ao seu lado, mantendo uma relativa distância de segurança. Tinha medo de tocá-la. Tinha medo de que ela cobrasse-o por uma noite de sexo e ele falhasse, como da última vez em que brigaram. Álcool, vergonha, arrependimento, várias trepadas depravadas durante as últimas horas... uma combinação letal para seu desejo.
Mas desta feita, Marina não abriu a boca. Desligou a luz da luminária e condenou os dois a escuridão e ao silêncio. Fábio ainda demorou alguns minutos para ser vencido pelo cansaço. Mas nem as especulações sobre o “amanhã” lhe deram forças para mais.
Acordou com a velha dor de cabeça pós balada. Mas nem lhe incomodou tanto quanto o peso em seus braços. Quis trazer suas mão aos olhos, para coça-los e eles simplesmente recusavam-se a obedecer. Até que vislumbrou-os presos à cabeceira da cama, por um par de algemas – Que porra é essa? - resmungou, enquanto corria os olhos por seu corpo, vendo-se preso pelas pernas também. E completamente encapado por filme de PVC, próprio para embrulhar alimentos.
Marina, sentada em uma cadeira a sua frente, fitava-o, sem qualquer expressão em sua face - Dormiu bem? - e não havia ironia em sua voz tampouco, apesar da pergunta. Quisera apenas chamar a atenção de Fábio.
- Que você está fazendo, sua louca? Que merda é essa? - esbravejou em vão. Marina apenas levantou-se da cadeira e caminhou até a penteadeira do quarto. Ao lado desta, malas prontas para uma longa viagem. Sobre o móvel, uma urna de cerâmica, bojuda, com uns 30 centímetros de diâmetro na parte mais larga e uns 45 de altura. Apanhou o pote e veio até a borda da cama, com o mesmo caminhar lento e cadenciado.
- Sabe Fábio, imaginei esta nossa conversa por toda a noite, enquanto te esperava. Mas quando deitamos, lado a lado, eu sentindo o cheiro do álcool e daquela vagabunda em você... - balançou a cabeça lentamente - Você nem me tocou! Não há mais o porquê de mais uma conversa...
- Espera, Marina. O que é isso, esse pote? O que você pretende fazer? Pense nos momentos que tivemos, pense nos seus pais, como vão lidar com a vida se você fizer uma bobagem.
- Será problema deles, Fábio. Quanto ao pote... - desrosqueou a tampa até ouvir um pequeno estalo – Não sei se você percebeu, mas apenas o seu pênis está livre do filme. Exposto...
- Escuta, olha.... vamos conversar direito mulher – Fábio gaguejava, olhando em desespero suplicante para Marina. Não sabia detalhes de seu plano. Porém, tinha a certeza do pior porvir.
- Lava-pés. Ou formigas de fogo. Uma das ferroadas mais dolorosas da natureza. Carnívoras, aterrorizam pessoas e aminais da região amazônica. Carnívoras... Não tanto quanto nos filmes de Hollywood. Afinal, são formigas e não piranhas – e dito isso, tombou a urna numa abocanhada envolvente sobre o membro do marido – Umas cinco ou seis mil delas dentro deste pote. Vindas do laboratório da Universidade e criadas no porão, com todo o cuidado. Só aguardando...
Fábio urrou de desespero. E em seguida, urrou e urrou de dor a cada ferroada que sentia. Mas Marina nem lhe prestava atenção. Com as malas na mão, saía pela porta da frente de sua casa. Para uma viagem. Sem destino certo. Apenas para longe da mediocridade e hipocrisia cotidiana – Com um pintinho desses, em minutos o serviço estará feito - e ele poderia pensar nisso, enquanto o veneno das formigas fechasse sua garganta e o matasse por asfixia – O que é uma pena. Me daria mais prazer imaginá-lo sentir as entranhas devoradas também.
O carro partiu e em segundos a casa ficou diminuta no retrovisor. Os gritos de Fábio eram apenas lembranças de um passado de equívocos.

5 comentários:

Mikasmi disse...

Que dor!
Muito bom o seu conto.
Quantas vezes não apetece fazer uma coisa dessas?
O bom senso nos impede, mas a vontade fica recalcada e só o tempo faz etenua a raiva.

Anônimo disse...

Muito bom José! :)

Parabéns! Gostei da consciência dele, realista e verosímil. Achei excelente o desfecho, nunca imaginaria!

Grande abraço.
Luísa

LISON disse...

SAUDAÇÕES!
AMIGO JOSÉ SIDNEY.
Um Conto espetácular!
A criatividade andou passoa a passo medindo cada detalhe de uma ação!
Parabéns pelo extraordinário texto!
Abraços!LISON.

joselito disse...

Oh Loco, é pra ter medo da vingança de uma mulher traída ....

flo disse...

oi
o joselito
esta com toda razao
´´e pra ter medo mesmo!!!!!!!!!!!!!

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