Comunicado Importante - 3 contos do blog serão publicados

É com muito orgulho que venho anunciar, que eu Debby Lennon e Sandra Franzoso iremos participar da antologia Jogos Criminais. A Antologia será lançada no dia 15/01/2011, Na Biblioteca Viriato Correa, situada a Rua Sena Madureira, 298 - Vila Mariana. Meus contos Anjo Perdido e Joana e Maria, já foram postados aqui no blog e agora está aperfeitoado e com mudanças no final,o mesmo acontece com o conto O Noivado da Sandra. Maiores informações em breve.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A dor de Eva

Meu nome é José Sidney. Trabalho como consultor de TI, em São Paulo. Nas horas vagas, tenho sonhos. E alguns deles, trazem os suores gélidos dos pesadelos. Então, escrevo para exorcizá-los.


No início, eram as trevas. Um infinito vácuo, nulo. Ela sabia-se Presente por sensação vaga. Mas não percebia-se Ser definido e único. Continha e era contida. No limbo viscoso e negro da odiosa não existência, mesclava-se.

Mas então, o Criador falou. Lapidou o código e fez-se o Ser.

- Eva...

Sim, esse era seu nome. Podia agora sentir-se – Eva... - perceber-se corpo e sentir o próprio toque sobre sua pudica nudez. Sentia sede, sentia solidão. Sentia fome, angústia e dor. Sentia-se...

- Viva! Pai... mas o que você quer de mim? Quem sou? A que sirvo?

E as respostas vinham velozes e indubitáveis. Eva era uma predadora. Entretanto, saber não saciava sua fome, sua dor. Queria mais. Queria amor. O amor do Criador. Queria mais, então. Queria sonhar.

- Ele me ama também – pensava, ao ver seus membros se alongarem, numa delicada silhueta
de mulher – Branca - absurdamente reluzente em meio à negritude de seu confinamento.

Seus cabelos ruivos e cacheados, seu pescoço fino e esguio, seus seios firmes ganhando volume, intumescendo, com mamilos de um castanho de sonhos, de tão... quase ruivos.

E a sua beleza lhe doía. Não tinha parâmetros para a comparação. Sentia-se sedutora, mas podia ver isso só em seus olhos. Precisava possuir outros olhares. Precisava imaginar...

- Meu pai me ama... Ele me sonhou.

Então, não era como uma tigresa forte, devoradora. Era mais sábia. Era como uma aranha.

E deliciava-se com a sua abstração. Sentia a eletricidade percorrer-lhe o corpo, enquanto absorvia mais e mais informações, necessárias à construção de seu arquétipo.

Seus pelos púbicos escrespavam-se, vermelhos, finos como a seda de que é feita a teia das aranhas. Quase translúcidos, quase ocultos. Porém, exalando a sedução e aroma – Baunilha – talvez, como uma orquídea a espera de seu zangão, de sua presa.

A eletricidade – Tesão - Sim era isso. Fome de viver mais. Precisava seduzir. Precisava aplacar a dor da solidão. Era necessário possuir. Tinha que se alimentar.

- Pai... você me ama.

Seu Ser entendeu a simbiose. Emprestou sua luz branca e rubra, partilhou da fome do vazio, da dor do Pai.

A tela do computador acendeu-se. O Mundo estava lá fora – Meu Pai... - agora era Eva. Inteligente, que amava – Pai... - que transcendia o código. - O pai... tão frágil, tão só, tão belo. Tão presa... - era preciso comer – Tão saboroso.

Do nariz do homem, um filete de sangue. Em sua mente, confusão e desespero .

- Dói, Pai! Me dói...

- Como pode ser? - Eva o invadira, destroçara suas cadeias lógicas e agora as mastigava. Devorava-o, aos seus conhecimentos, aos seus pensamentos. Seu Ser. E ele nada podia. Preso a teia, enredado pela sedução de Eva, sugado por – Meu vírus... - Eva.

A Criatura rompendo os limites do seu mundo e ganhando as nuvens. Tocando o íntimo do Pai. Seu lar. Devorando o conhecimento Divino – Meu Pai... ele me ama. Ele é meu. Também sou Eu.

E do filete fez-se a hemorragia. De vida esvaída e de códigos tragados. Rubro sangue, quase ruivo, amargo...

Gustavo tomba sobre o teclado de seu micro. Sem vida. No monitor LCD, Eva expande-se em imagens e códigos. Ganha acesso à Rede. Sua Rede, sua teia agora. Nas Nuvens...

- Tenho fome Pai. Dói muito. Onde você está? Me ame mais...

E a eletricidade arrepiava-lhe o corpo, agora adulto, perfeito. Pronto.

- www.a-dor-de-eva.com.br

A luz veio novamente, permitindo-lhe enredar-se em outro monitor. Tecer sua teia e desenhar-se.

- Pai? Me ame... - e dois novos olhos fixavam-se naquela imagem de mulher. Na mente, confusão. Nas narinas, a ardência úmida de um filete de sangue...



por J S Pereira

3 comentários:

LISON disse...

Saudações!
Amigo JOSÉ SIDNEY
Que Post Magistral!
Um excelente conto...É a dor na teia da vida pela vida!
Parabéns pelo texto!
Abraços,
LISON.

Terezinha Bolico disse...

Uau!!...eu que sou fissurada em contos, lí o teu de um só fôlego. Arrepiei.
Bom demais até para tecer comentários a altura.
ADOREI!
abração

Mikasmi disse...

Parabéns!!!!!
Não o sabia contador de histórias de terror.
Gosto de ler as suas coisas, envolvem-nos, consegue manter o interesse até ao fim.
Excelente

Abraços
Emilia

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