Comunicado Importante - 3 contos do blog serão publicados

É com muito orgulho que venho anunciar, que eu Debby Lennon e Sandra Franzoso iremos participar da antologia Jogos Criminais. A Antologia será lançada no dia 15/01/2011, Na Biblioteca Viriato Correa, situada a Rua Sena Madureira, 298 - Vila Mariana. Meus contos Anjo Perdido e Joana e Maria, já foram postados aqui no blog e agora está aperfeitoado e com mudanças no final,o mesmo acontece com o conto O Noivado da Sandra. Maiores informações em breve.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Outra Vida

Não Aguento...Não Aguento...
Tanto Sofrimeto.
Em minha fria face congelada pelo tempo.

Vejo almasmorrendo naquele tempo
Lamentando-me...
Ouço gritos de dor e sofrimentos,
Pelas almas que estão sofrendo no momento.

Paz que eu já tive,será que terei novamente?
Almas à gritar e eu a chorar,por implorar um pouco de paz,
Errei o caminho agora irei de pagar.

Nada mais agora me resta,mas adentro existe um pouco de...
esperança,coagulando no canto de minha outra vida
Não vejo minha alma,e meu corpo já não sente tua presença
Desejo em mim um pouco de luz.

sábado, 27 de junho de 2009

Caminhos da vida

Este conto foi escrito para um concurso da lista do Overlook, portanto fechado, agora posto aqui para um público maior. Faço esta ressalva porque o conto não é inédito, embora tenha sido lido apenas pelas pessoas da lista na época.

Boa leitura, espero que gostem! :)

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Caminhos da vida

by Vic Donati (N.E.I.'.)


- Puxa, finalmente deu certo, estamos planejando esta viagem há tempos, nunca dava certo...

- É verdade, sai de Sampa vai ser bom por uns dias, foi sorte sua amiga ter achado um chalé em Sorocaba, perto de todo e ao mesmo tempo, longe de todos.

- E vamos chegar rápido, a estrada esta vazia, além do que, você esta sentando a bota, né Stephen?

- Estrada livre, sem radar, por que não, querida? Além disso, quero chegar antes de anoitecer, quero examinar bem o chalé, para ver como estão as estruturas dele, e isto precisa ser sob a luz do sol, aliás, Christine, como foi que sua amiga conseguiu este chalé? Comprou?

- Acho que não é dela, é emprestado, eu não perguntei, não faz diferença...faz?

- Se estiver inteiro, não, mas se não estiver, vamos embora. Não vou passar meu tempo consertando um chalé velho...

Quinze minutos após, estavam cortando uma estrada de terra, velozmente, em direção ao quarto chalé, o número 41 da estrada.

Aparentemente, parecia muito bem, uma sólida construção de madeira, carvalho provavelmente, envernizado e bem cuidado. Tamanho médio, quase encravado na mata cerrada, que rodeava toda a região, mostrando o quão grande e majestosa é a natureza.

Ao redor, uma montanha verde, cravejada de árvores e vegetação nativa, a paisagem era linda, o local espetacular para alguns dias de paz e sossego, fugindo da cidade grande.

Stephen tentou fazer uma ligação, mas o celular não dava sinal naquela região, “Uau, pelo menos também ninguém nos importunará neste local, embora fiquemos incomunicáveis..” Stephen parecia feliz, embora gostasse de ter seu velho Motorola sempre à mão, para qualquer eventualidade...

Christine já estava lá dentro, remexendo nas coisas, procurando as luzes, mas não havia luzes...não havia eletricidade lá no chalé. Sua amiga não tinha contado este detalhes.

- Vamos voltar, precisamos comprar velas e fósforos – berrou lá de dentro.

- Brincou, não tem energia ou esta desligada? Melhor ver se não esta desligada, pode ser que tenham cortado a luz, se não pagaram a conta, ou então esta desligada na chave geral. Procure a chave geral.

- Você esta vendo fios chegando até aqui? Pois então, agora estou reparando, não tem fiação na rua, então não tem eletricidade. Temos que voltar rápido, antes que escureça. Não quero entrar aqui no escuro!

- Já começaram os problemas, nem bem chegamos... Ora, se vamos ficar isolado, qual o problema em ficar sem eletricidade? Vai perder as novelas? Dane-se! Vamos ficar aqui mesmo, que se foda a eletricidade, quero descansar. Passamos esta noite aqui, no escuro, amanhã eu saio e vou comprar velas enquanto você desfaz as malas e arruma as roupas nos armários.

Pronto, Christine já ficou emburrada, não gostava de ser contrariada, e gostava menos ainda de ficar num lugar sem luz, nem tinham trazido lanternas, como seria se tivesse que ir no banheiro no meio da noite? Ou tomar um pouco de água? Água quente, provavelmente, pois não havia geladeira; sem energia, sem geladeira, claro!

Levaram a malas para dentro, esvaziaram o carro.

O interior do chalé parecia ordenado, pouca poeira, mobília bem cuidada, nem parecia um local raramente visitado nos últimos anos, certamente deveria estar infestado de aranhas e outros bichos, mas nem isto havia, estava realmente limpo.

Ele era composto por uma grande sala, com lareira, na entrada. Um pequeno banheiro encravado numa parece, apenas uma portinhola com um nicho para uma pia. Um lavabo estilizado. Nos fundos, uma cozinha ampla, com fogão à lenha, uma grande mesa de centro e muitos utensílios antigos, de ferro, madeira e barro. Pelo visto, teriam que reaprender a cozinhar, como nos tempos de seus avós...

Os quartos eram pequenos, um deles com uma grande cama de casal, com um grande armário ocupando toda uma parede, com 5 portas. Grande, imponente. Uma penteadeira antiga, forte, uma peça clássica, com dois bancos, espelho. Uma bela decoração e nada de pó acumulado nem mesmo na colcha. Certamente alguém deve ter ido lá e limpado há pouco tempo. No lado oposto ao armário, uma grande janela que dava visão para os fundos da casa, ou seja, uma vez aberta, teríamos toda a natureza à nossa disposição.

O outro quarto continha duas beliches e um pequeno criado-mudo entre elas. Um baú fazia as vezes de guarda-roupas e a janela era pequena, também com vistas para os fundos.

Um pequeno corredor interligava os quartos à cozinha e sala, mas faltava alguma coisa.... Cadê o banheiro? Havia um pequeno lavado num nicho na parede da sala, mas nada de sanitários, chuveiro e outros bichos. Onde estariam? Será que era do lado de fora? Mais complicações...não haviam visto nenhuma outra construção ao redor do chalé, nada que pudesse ser um banheiro.

Saíram, rodearam a casa, o sol ia ser por em poucos minutos, não encontraram nenhum banheiro, mas certamente deveria haver um. Onde se faziam as necessidades naquele lugar, cacete?

Havia uma picada na mata, saindo da parte traseira da casa, era possível enxergar um caminho no meio da floresta, seria ótimo para uma exploração amanhã, o tal contato direto com a natureza, era o que procuravam.

Banheiro externo, nada. Será que faltou ver algum lugar dentro? Voltaram, vasculharam a casa, não acharam mais nada. O jeito era dormir antes que escurecesse.

Retiraram apenas umas poucas roupas das malas, apenas o necessário para arrumarem a cama, uma bermuda para Stephen e uma camisola para Christine. Chinelos. Uma garrafa de água para Christine, uma de coca para Stephen (que não toma água). Nada mais.

Conversaram um pouco na sala, Christine deitada no colo dele no sofá, o lugar era aconchegante, procurariam lenha para acender a lareira no dia seguinte. Não que estivesse frio, mas a lareira acessa traria luz permanente ao chalé durante a noite, o que resolveria o problema de iluminação.

Aqueles dias, cujo prazo ainda era incerto, pois não sabiam quanto tempo ficariam por lá, serviria para aparar algumas arestas do relacionamento, uma tentativa de fazer com que o namoro de alguns anos se tornasse sólido o suficiente para se tornar casamento, ou então, que ficasse claro que nunca passaria disto, seria namoro permanente até que algum dos dois, ou ambos, partissem para outras aventuras, ou mudasse o rumo de sua vida.

Ficaram conversando por quase uma hora, o sol já tinha se posto, a escuridão já era total, mas tinham memorizado o caminho até o quarto, não seria difícil chegar até lá, quando o sono viesse e o papo terminasse. Resolveram ficar um tempo em silêncio, pensando na vida, contemplando aquele silencio tão raro de se obter na cidade, a magia do momento, o som dos animais noturnos, alguns grilos próximos faziam suas serenatas, ao longe se ouvia o barulho das árvores chacoalhando, pelo visto estava ventando bastante...

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Barulho!

Acordaram sobressaltados! O que houve? Estavam no sofá, cochilaram...ela no colo e ele com a cabeça pendida no encosto do sofá, o pescoço doía. Barulho de que? Era chuva, e não parecia pouca coisa, pelo visto o famigerado santo que mora no céu estava lavando o quintal, e não fazia conta de desperdiçar água, não deve haver problemas de racionamento de água no céu, devem possuir um sumidouro inesgotável de água lá em cima...

Era melhor irem para a cama, passou da hora. Checaram as horas no celular, pouco mais de 22h. Era cedo para dormir, gostavam muito da noite, gostavam de dormir tarde, gostavam de aproveitar a noite, ele para leituras, ela se revezava entre o micro e a tv, normalmente os dois ligados, tentava navegar na Internet e assistir tv ao mesmo tempo, invariavelmente perdia algo da tv e ficava chateando, perguntando o que foi que determinada personagem falou na novela, ou no filme, perturbando a leitura do amado. Relacionamentos, nuca é perfeito, mas pode tentar ser adaptável. Eles buscavam isso, naquela semana. Stephen tirou uma semana de féria, com opção de prolongar por mais uns dias, Christine era corretora de imóveis, não tinha obrigações fixas, poderia até ficar um mês fora. Stephen era advogado, embora fosse executivo de uma gravadora, sua paixão era a música, além da leitura.

Sem energia, não poderia ler a noite e tampouco ouvir seus CD´s, uma chateação, não resta dúvida, mas era somente por uma semana, depois tudo voltaria ao normal, poderia voltar a dormir ao som de Bach, tomar banho ouvindo Beethoven e ler ao som de Gershwin e Cole Porter. A gente pode não ter muito controle sobre a vida, não sabemos o que vai acontecer no próximo segundo, mas podemos deixá-la mais divertida e especial, escolhendo sua trilha sonora. Ao menos, esta parte da vida nós podemos dirigir.

Resolveram lavar o rosto, uma topada aqui, uma tateada acolá, chegaram ao nicho, lavaram as mãos e o rosto. Tinha até sabonete lá, muito estranho... Seguiram para o quarto, não foi difícil chegar, bastou seguir o corredor, não havia nenhum obstáculo no caminho para dificultar, então esta parte foi fácil. Se beijaram, trocaram de roupa e se deitaram. Ele não queria coberta, ela não dormia sem coberta, o jeito foi dobrar ao meio, ela ficou com as duas partes...

Nada melhor do que o barulho da chuva para dormir, mas ainda faltava alguma coisa antes de dormir...sim, claro! O ambiente era favorável, cheiro de mato invadia o quarto pelas frestas da janela, o amor estava no ar, a paixão queimava, então a natureza, em sua extrema beleza, se fez presente naquele quarto escuro.

Agora sim, o sono esta chegando, a chuva não para, parece apertar, mas nem mesmo goteiras no telhado havia, uma verdadeira tranqüilidade...adormeceram abraçados.

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- Ouviu isso, Stephen?

- Não, o que?

- Esse barulho, raspando...

- Onde? Perai...estou ouvindo agora, baixinho...

- O que é isso, Stephen?

- Não sei, deve ser lá fora, algum bicho, sei lá...

- Mas parece ser aqui dentro, estou ouvindo, se fosse lá fora o barulho da chuva abafaria, é aqui dentro, tem algo aqui!

- Espera, parece mesmo, mas, estranho... parece que esta aqui no quarto, mas como é possível? Não há mais nada aqui, será um rato?

- Não...sei, mas precisamos descobrir.

- Como? Sem luz, como vamos procurar alguma coisa? Deixa para lá, vamos dormir, amanhã procuramos no claro.

- Eu não vou conseguir dormir com algo dentro do quarto!

- E qual a sugestão?

- Não sei, quais as opções? Considerando-se que é dentro do quarto, onde poderia ser? Guarda-roupa?

- Guarda-roupa...é, deve ser, algum rato perdido lá dentro. E como vamos ver, não tem luz, porra!

- Ouviu? Ouviu?? São passos! Passos!! Passos dentro do armário, merda de casamaldita escura! Tem alguém lá dentro, Stephen, faça alguma coisa!!

- Eu não ouvi passos, como pode ter alguém andando dentro do armário, você é histérica, Christine! Pára!

- NÂO! Ouvi passos no armário, te alguém lá, ai meu deus...não devíamos ter ficado aqui isolados, sem luz!

- Sossegue! Se você acha que são passos, o que é uma insanidade da sua parte, eu vou lá e abro a porta, se tiver alguém, tem que sair, certo?

- Não! Não vá, amor, pode ser perigoso!

- Cacete, você não quer esperar até amanhã, mas também não quer que eu vá ver, decide! Vou ver ou ficamos aqui?

- Eu vou com você, vamos ver, eu não vou conseguir dormir sem saber quem ou o que esta lá dentro...escuridão maldita!

Desceram da cama, caminharam lentamente na direção do guarda-roupa, estavam agora lado a lado, Christine abraçada em Stephen, que procurava a maçaneta para abrir o armário. Era um armário de madeira maciça, haviam diversas portas, ele resolveu começar pela do meio, mania de simetria...

Achou a maçaneta, puxou...nada! Nem um barulho, nem um ruído, passo algum, nada. O silêncio dentro do quarto era total, lá fora ainda se ouvia a chuva martelando a floresta violentamente, parecia que nunca teria fim...

Segunda porta, abri e...

- AAAAHHHHHHHHHHHHH...Stephen!! O que é isso??

Um vulto pequeno saltou colidindo com eles, sentiram o arranhar de unhas nas pernas nuas, era um gato...

- Merda de gato!

- Calma, Chris, pelo menos agora sabemos de quem eram os passos assustadores...

- Vai à merda! Poderia ser outra coisa!

- Claro, andando dentro do armário, gnomos, talvez...

- Idiota! Onde foi este maldito gato agora?

- Bom, pelo barulho, acho que saiu do quarto, esta em outro lugar da sala, impossível achar agora. Deixa ele lá, trancamos a porta e voltamos a dormir.

- Esta bom, então vamos, mas tenho certeza que não vou dormir mais nesta casa...

Adormeceram....


O dia seguinte acordou barulhento, um pica-pau bicava o batente da janela, grilos serestavam, ao longe o marulho do vendo chacoalhando as árvores, a luz era intensa lá fora, os raios solares entravam pelas frestas da janela, o dia amanheceu lindo, após uma noite de tempestades.

Christine acordou, tateou a cama, cadê Stephen? Um salto!

Não havia ninguém mais na cama!

- STEPHEN!

Nada.

- STEPHEN, CADÊ VOCÊ??

Nada.

Assustada e irritada, abriu a porta do quarto, gritou novamente...nada.

Tomou coragem, sempre olhando para todos os lugares para ver se o gato não lhe pregaria outro susto (era gato mesmo? Não deu para ver...)

Esquadrinhou toda a casa, nada. Abriu a porta da rua, o carro sumiu! Onde teria ido? Até a cidade comprar velas? – pensou. Impossível, sem avisar ele não faria isso, além do que, sempre acordou depois dela, não fazia sentido.

Tentou ligar, mas o celular continuava sem sinal (maldito lugar!), deu uma volta em torno da casa para colocar as idéias no lugar, pensar no que fazer, como Stephen saíra da casa sem acordá-la, abriu a porta, saiu com o carro, mas a porta estava trancada por dentro, só havia uma chave, e ela estava do lado de dentro da porta...

Perdida nos pensamentos, olhou ao redor para ver se havia alguma casa, alguém a quem perguntar se tinha visto um carro saindo, ou ouvido, ou qualquer merda que fosse! Só aí ela reparou, a picada na mata...agora era dia, será que Stephen teria entrado lá para explorar?

Era dia, havia sol, um calor mediano, a natureza era linda, por que não dar uma conferida? Vamos lá...

Chegando à entrada, notou que a picada subia em direção ao morro, depois fazia uma curva e sumia em torno, parecia uma longa viagem, então resolveu voltar para pegar uma garrafa de água, calçar um tênis e encarar a trilha.

Ao entrar na trilha, reparou que estava imensa na floresta, havia um sol escaldante, mas apenas alguns raios passavam o cobertor verde que se formava sobre ela, então ela estava literalmente dentro da montanha, a visão era maravilhosa, mas a apreensão continuava, sozinha e agora no meio do mato. E se aparecesse um lobo, uma onça? Paciência.

Logo após a virada, a trilha seguia mais uns duzentos metros montanha acima, a garrafa de água estava pela metade, subida pesada para pernas paulistanas sedentária, a idéia de retornar começava a brotar em sua mente.

Christine reparou que a floresta se modificava enquanto andava, as plantas era outra, as árvores muito maiores, a terra mais escura, as lindas flores que haviam na entrada agora não mais se faziam presente, o túnel que se formava agora era de um verde denso e um marrom quase preto, a ausência de outras cores era incômoda e inexplicável, aliás, inexplicável como tudo o mais daquela aventura, sem energia, um gato na madrugada (que não foi mais visto), o namorado some e agora esta trilha, que se modifica a cada avanço, que se transforma como se fosse um organismo vivo, como se estivesse penetrando na garganta da montanha, entrou pela boca, cruzou a língua, desceu pela garganta, explorou o duodeno e agora se encontrava no estômago, ou pelo menos esperava que não fosse isso, mas a metáfora lhe acompanhava nesta viagem solitária.

Um barulho! Olhou em volta, nada visível, apenas a mata densa, o cheiro forte de terra negra, impregnada de vida, mas uma vida que lhe arrepiava todos os pelos do corpo. Vida? Terra viva? Penetrando no interior da montanha? Mas não estava subindo? Não! Subiu duzentos metros, depois foi ladeira abaixo, de alguma maneira, tinha realmente ingressado dentro da montanha, pois não havia como ter escalado inteira, ela tinha muito mais do que duzentos metros de altura! Estava realmente, entrando na montanha, era melhor voltar.

Parou, tomou restinho de água, olhou em volta, aguçou os ouvidos, nada, nem um som. Gritou por Stephen, embora com medo de atrair algo indesejável, mas nada, nem uma resposta, nem de Stephen, nem de mais ninguém... O jeito era voltar mesmo, andar até a estrada e conseguir carona, ou tentar achar algum vizinho em outro chalé, enfim, algo menos tenebroso do que entrar naquela montanha.

Voltou, começou a percorrer o caminho de volta, sempre em descida. Foram algumas dezenas de metros e, estacou! Descendo! Mas ela estava descendo quando estava entrando na montanha, agora estava fazendo o inverso, então deveria estar subindo, mas estava DESCENDO!

- Que porra é isso??

Olhou para trás e viu um aclive, realmente, estava descendo... Como poderia ser?

Olhou em volta, aquele tubo denso, verde, agora se parecia com um intestino, um intestino delgado, cheio de dobras, artérias, reentrâncias, sim, aquilo estava vivo, a montanha estava viva, e ela estava sendo consumida pela montanha, de alguma maneira, mesmo tomando o caminho de volta, estava seguindo o mesmo caminho de quando entrou, era um caminho sem volta. Ela sabia.

Toda a sua vida passou pela sua cabeça, suas lembranças mais longínquas, a infância feliz, brincando com os avós, se dividindo entre o pai e a mãe, uma semana na casa de cada um, ambos disputando sua atenção com presentes compensatórios pela separação, e o pouco tempo livre de ambos. Os colegas da classe, as brincadeiras de queimada, o handebol e as medalhas conseguidas nos campeonatos do colégio, as amigas da rua, a sua melhor amiga que se matou com 11 anos por ter sido rejeitada por um colega de mesma idade, sua primeira vez naquela excursão ao sul do país, serras gaúchas, com Peter, aquele gaúcho miúdo - filho do guia turístico - que ela nunca mais viu... colegial, o professor de física pelo qual era apaixonado, mas que gostava mesmo era de uma dentuça qe sentava atrás dela, interessante como o gosto das pessoas é algo completamente caótico, o feio parece bonito, o bonito enfeia e o ser humano constrói seu ideal de beleza baseado em conceitos meramente efêmeros, onde uma linha tênue separa a beleza da feiúra, a felicidade da tristeza, a união da separação. Faculdade, bons tempos, festas, boas notas, praia, lual, sim, aquela experiência traumática com a colega de barraca na praia, fatos da vida, somos constituídos de tudo aquilo que passamos, vivemos, fizemos e sonhamos, a mistura de tudo isso numa proporção incerta e aleatória resulta no ser humano que somos, naquilo que nos transformamos ao decorrer desta nossa vida terrena.

Melancolicamente, resignadamente, Christine continuou sua senda, sempre descendo, sempre reparando no cenário, nas mudanças, na capilaridade daquele túnel verde escuro, puxando para o avermelhado, escurecendo...a viagem deve estar chegando ao fim....



- Christine!!

...

- Christine!!

- O que? – sobressaltada

- Estou aqui te chamando já faz um tempo, já andei pela casa toda, é linda, mas não me agradou. A aura dela não bateu com a minha, acho que não nos entendemos, não vamos conviver bem, creio que vou procurar outra casa aqui no bairro, esta não vai servir. Estava lhe chamando para irmos embora, você parecia em transe, o que houve?

- Nada...nada...creio que devo ter desligado por uns instantes, não dormi bem a noite passada. Vamos embora, eu te levo.


Christine chegou em casa, achou melhor tomar um banho, despertar de vez e tentar por as idéias em ordem, ainda não tinha compreendido o que havia se passado. Despiu-se e entrou na água quente, relaxante...

Tocou o telefone, uma vez, duas...três....caiu na secretária eletrônica, recado gravado.

Saiu do banho, sentou na cama e massageou os pés, os saltos diários estavam cada vez deixando os pés mais doloridos, passou creme, massageou, olhou para a secretária e viu piscando o aviso de um recado gravado.

Levantou-se e apertou “play”:

- Chis, você não vai acreditar! – era Stephen – Consegui tirar alguns dias de folga aqui no estúdio, estou com vontade de descansar, podemos passar uns dias maravilhosos juntos, falei com sua amiga, ela vai emprestar o chalé dela para nós, fica aqui pertinho de Sampa, em Sorocaba! Me ligue assim que pegar este aviso, já estou fazendo as malas e espero sua ligação para passar ai e te pegar...

O pote de creme caiu das suas mãos....


FIM

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Uma noite inesquecível.

Sidnei estava sonolento e com frio, brigava para manter os olhos abertos e a consciência, mas era difícil. Sua cabeça doía muito, mais ainda quando tentava abrir os olhos. Pensou ouvir batidas. Parecia que estava em sua casa. Não agüentando mais, voltou aos braços de Morpheu, mergulhando na inconsciência.

3 meses atrás

Sidnei Tesla era um empresário de sucesso, mas gostava de “curtir” a vida. Estava sempre nos eventos e nas baladas. Solteiro, dificilmente voltava para casa sem companhia. Era alto, forte e gostava de cuidar do corpo e da saúde. Freqüentava academia todo dia e tinha uma alimentação regrada. Com 32 anos, gozava de perfeita saúde e fazia checkup periodicamente.
Nos fins de semana, freqüentava as mais badaladas danceterias e boates da cidade.

2 meses atrás

Houve uma noite se sábado, em que ele ficou no bar e conheceu uma loira de grandes atributos físicos que não vale a pena relatar aqui. Enfim, ela recusou seu convite para sair, apesar de sua insistência. Naquela noite ele retornou para casa sozinho.
Passou a freqüentar aquele mesmo lugar. Estava obcecado pela loira, que sempre se esquivava dele.

1 mês atrás

Um mês depois, havia descoberto o nome dela. Era Vanessa, mas foi só isso. Ela se mostrou muito reticente e era difícil extrair alguma informação pessoal dela.
Essa espera o estava matando, mas a vontade da conquista era maior, e ela, era um furo em seu orgulho.
Na semana seguinte, descobrira que ela era enfermeira e passaram a se encontrar sempre, todo fim de semana, na mesma danceteria.
Em um desses encontros, ela finalmente cedeu e resolveu acompanhá-lo até seu apartamento.
Passaram a noite conversando, e ela o tempo todo repelindo suas investidas. Saiu no dia seguinte deixando um bilhete sem telefone, apenas escrito:
“no mesmo lugar de sempre”

Ontem – sábado

Encontraram-se novamente. Abraços, beijos e caricias já era comum entre eles. Vanessa sussurrou em seu ouvido que essa noite seria diferente. Ela o iria recompensar por tanta paciência e insistência.
Em um momento que Vanessa se ausentou para retocar a maquiagem, Sidnei ligou para o porteiro de seu prédio e pediu que providenciasse champanhe e flores e deixasse em seu apartamento e não o perturbasse até segunda-feira. O porteiro respondeu com um risinho e disse que proveria tudo e que ele não precisava se preocupar.
Quando chegaram no apartamento de Sidnei, os dois foram direto para o quarto. Vanessa percebeu o champanhe e o arranjo floral por todo o quarto.
- Que convencido! Já sabia que seria hoje? – disse ela com um sorriso malicioso.
- Nada disso. Apenas fiz alguns contatos antes de virmos. Gostou?
- Pois eu prometo a você que essa noite será inesquecível. – exclamou a loira já preparando duas taças.
Sidnei estava tão inebriado com o momento, que não percebeu que sua taça borbulhava mais que a dela.
Vanessa já estava em trajes mínimos e fazia uma dança sensual na frente de Sidnei.
A dança o estava deixando tonto, ou seria a bebida? Sidnei não sabia, não entendia o que estava acontecendo, parecia que tudo estava de movendo devagar. Vanessa, percebendo o efeito da droga na bebida colocou o pé no peito de Sidnei e o empurrou para trás. Sidnei com um sorriso bobo cai na cama adormece.

Manhã de terça-feira

Cícero, preocupado com o morador do 618 não ter aparecido durante a segunda-feira, e após chamar várias vezes pelo Sr. Sidnei sem obter resposta. Resolveu chamar a policia. Tinha se arrependido de ter jogado a chave por baixo da porta.
A policia chega e após chamar várias vezes pelo morador, decide invadir o apartamento. Tudo estava no lugar. Encontraram o senhor Sidnei no banheiro, deitado em uma banheira com gelo manchado de sangue. Ainda respirava. Havia uma banqueta ao seu lado com um telefone celular.
Em uma análise rápida, os peritos disseram que haviam removido os rins dele cirurgicamente. Tudo indicava que o senhor Sidnei Tesla tinha sido vítima de um ladrão de órgãos.

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por Jack Sawyer
jack.sawyer@itelefonica.com.br
http://contosfantasticosdesial.blogspot.com

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Fazenda do Vovô Jeremias

Prólogo
Era o lugar mais lindo do mundo a Fazenda de Vovô Jeremias. E todos que aquela terra conheceram jamais saíram de lá dizendo menos que isso.
Se o ar parecia melhor, a água com gosto divino, as frutas e comidas com um sabor excepcional ou, simplesmente, as pessoas se sentiam mais felizes do que em qualquer outro canto, ninguém realmente sabia explicar, apenas todos repetiam que não havia lugar mais lindo no mundo que a Fazenda de Vovô Jeremias.
Na verdade, nem era bem uma fazenda. Quem quisesse ser preciso, chamava mesmo de granja. Teve até um doido, que se dizia poeta lá da América, e escreveu uns versos num português de sotaque carregado para uma canção que terminava com uma frase mais ou menos assim: "(...) é um pedacinho do Paraíso que a bondade de Deus deixou cair e se esqueceu aqui na Terra essa Fazenda do Vovô Jeremias..."
Nas redondezas, a opinião não era diferente, menos para Dona Santa, uma velha solteirona, mais azeda que limão. "É coisa do Diabo, isso sim, esse lugar!", berrava para o pessoal da igreja no domingo. E o pastor reclamava com ela, por causa dessa birra insistente, mas Santa nunca desistiu até que a velhice e um ataque cardíaco a levaram.
CAPÍTULO I
Na casa de Seu Roberto foi um choque o telegrama. Ele releu para a família reunida (Dona Inajar e os filhos Vitório e Suzana):
- "Comunicamos falecimento Jeremias Moriz Chagas pt Corpo reclamado e extraditado por parente europeu distante pt Propriedade herdada por Vsa pt comparecer no local 29/08 às 10 h para leitura testamento pt"
Dona Inajar perguntou perturbada:
- Vovô Jeremias morreu?
- Morreu - respondeu-lhe o marido - e deixou a fazenda para nós. Não é maravilhoso?
Vitório ficou empolgado, afinal com seus dez anos já ouvira falar muito daquele lugar e estava curioso. Quem sabe a família se mudasse para lá? A vida na cidade lhe incomodava.
Suzana, porém, odiou a notícia. Seus trezes anos abominavam a idéia de ir ao campo e, sentia-se morrer quando pensava na perspectiva de a família se mudar para "o meio do mato".
Todavia, na data marcada, tendo Seu Roberto dirigido por três horas o carro, escutando a empolgação de Vitorio e Dona Inajar e os resmungos de Suzana, lá estavam todos eles para a leitura.
Quando o advogado guardou os papéis, Seu Roberto, Dona Inajar e Vitório abraçaram-se de alegria. Iam se mudar para ali, não mais cidade poluída e violenta, não mais vida agitada e nada saudável. Dormiriam aquela noite ali mesmo. Pela manhã, Seu Roberto cuidaria dos detalhes da mudança. Aquele era o paraíso no qual se abrigariam.
Paraíso? Era só mato, e mais mato, cheiro de estrume e bichos... Assim pensava e maldizia Suzana, enquanto seu irmão pulava de uma árvore para dentro de um rio. Morar ali era o Inferno, a menina repetia para si mesma.
À noite, o resto da família foi dormir agradecendo aos céus pelo presente. Porém, Suzana não conseguia fechar os olhos. Passar os próximos anos ali? Não! Não podia ser! O que de tão mal teria feito para Deus condená-la aquilo?
Foi quando escutou um som, um murmúrio, algo feio e desagradável que, todavia, capturou-lhe a atenção.
Desceu do beliche. Pegou uma vela na cozinha. Saiu escondida de todos. Sem entender como fazia aquilo, atravessou o terreno ao redor da casa. Cruzou um monte de terra lá depois da jabuticabeira, passou por um galinheiro já desativado até chegar numas pedras. A curiosidade, ou o que fosse, fez a garota encontrar o buraco que era a abertura de um túnel. Devia ter ficado louca, mas não conseguia parar. Foi descendo pelo aquele corredor até sair numa câmara ampla, iluminada por tochas.
O olha de Suzana prendeu-se na figura horrível sentada numa pedra no centro daquele cômodo. As feições eram mais feias, esqueléticas e a pele enrugada, o cabelo assanhado e o cheiro ainda pior do que ela saberia descrever. E havia os dentes, claro, aquilo abria a boca, tentando rir como uma pessoa e os dentes ficavam à mostra denunciando o que seu dono realmente era.
- Você é realmente uma coisinha terrível e desagradável, não é, Suzana? - disse o monstro para a menina - Qualquer pessoa no mundo acha isso aqui um paraíso, mas você vê essa terra como se fosse uma desgraça! Senta aí, em qualquer lugar.
Pela primeira vez na vida, Suzana estava realmente assustada. Obedeceu, sentou-se num canto rochoso e largou a vela no chão.
- Você não é um, quer dizer... - quase balbuciou - Gente feito você só existe em filme! Não é de verdade. Tô doida ou sonhando, não é?
- Nããão... - respondeu-lhe a coisa - nem está sonhando, nem é doida. E sim, existo e meu povo existe, embora não haja muitos de nós hoje em dia. Ah, você é uma ignorante! Nunca leu um livro fora da escola,não foi? Sua espécie já escreveu algumas boas obras sobre a minha espécie.
- Isso tudo é maluquice! Eu vou é fugir daqui! Não vai virar um morcego e me perseguir,não é?
- Pra quê? Não lembra aquela história de "hipnose"? Você não sai daqui porque não quero.
- Ai, meu Deus!
- Se falar esse nome de novo eu te arranco os dentes! Ou as tripas!
- Não, não falo, não. O que você vai fazer comigo?
- Tenha calma. Sou civilizado. Quero conversar primeiro. Meu nome é Lottar Gan Amon. Você é uma coisinha tão pertubadora como nunca vi. Foi chegar na fazenda e já me senti incomodado.
- Eu queria sair daqui!
- Já disse que não! Faz algo inteligente: pergunta por que estou aqui?
- Pra quê?
- Drama, para manter esse tom teatral. Meu povo adora isso. Na maior parte das vezes, agimos como se estivéssemos atuando para uma platéia atenta ou sendo lidos por alguém aficcionado por literatura fantástica. Na verdade, quase consigo ver um par de olhos me observando agora...
- Nunca te disseram que isso é coisa de doido?
- Arranquei a cabeça do último humano que tentou dizer.
- Ai.
- É, já arrancaram a minha, dói mais do que parece. Mas vamos ao que interessa: cinqüenta anos atrás, seu Vovô Jeremias encontrou-me moribundo na Europa. Diferente de você, ele tinha reverência pelos mitos e lendas. Trouxe-me escondido para o Brasil, colocou-me aqui e cuidou de mim. Teve uma idéia e fizemos um pacto.
- Como aquela história de pacto com o diabo?
- Não! Minha espécie não tem nada a ver com o Diabo. De onde tirou uma idéia estúpida dessas? De algum filme idiota?
- Foi.
- Não disse? Você devia ter lido livros. O pacto era para transformar esse lugar num paraíso. Ele me fornecia vítimas para minha fome e usei magia para que este lugar se tornasse o que seu avô sonhava. Mas aí aparece você: embora tenha o sangue dele, é uma alma idiota, seca, sem gosto algum pelo fantástico, pelo antigo, pelas lendas e que ofende minha obra! Fiz disto aqui um paraíso, mocinha! Um paraíso! E você só vem falar "em mato e estrume"?!!!
- Você leu minha mente?
- Claro! Para meu povo, telepatia é uma das cem coisas mais fáceis que existem.
- Adiantava se eu pedisse desculpa?
- Não.
- E o que vai fazer? Me deixar ir embora,né? Juro que não conto pra ninguém tudo isso.
- Embora? Rá! Tratar com você me deixou com muita fome. Seu sangue deve ter um gosto nojento, mas estou tão faminto que vai ter de servir assim mesmo. Vem. Não resista. Traga esse pescocinho para cá.
Continua...
CAPITULO 2
Vitorio estava no seu novo quarto na fazenda. Arrumava suas coisas e cantava uma canção divertida que aprendera na escola.Pensava em sua irmã, Suzana. Vitorio gostava dela. Tinha discussões e brigas como todo irmão, e as vezes ele sentia muita raiva dela, mas no momento estava preocupado com ela.
Havia muitas horas que sua tinha ido procura-la em seu quarto, mas ela não estava lá e nem em parte alguma da casa, como ele mesmo pode constatar.
Procurou por ela, gritou, chamou seu nome, e nada. Estava chegando a conclusão que sua irmã tinha feito uma loucura e fugido da fazenda que ela tanto odiara.
Foi falar com o pai, mas ele deu de ombros e disse que quando ela tivesse fome, apareceria. Afinal de contas pra onde ela poderia fugir em um lugar isolado como aquele?
Mas as horas foram passando e nada dela aparecer. Vitorio estava cada vez mais apreensivo.
Ficou com muita pena da irmã quando sentiu sua revolta em morar no campo, ele não conseguia entender o porque, afinal o lugar era muito agradável, tinha tantas coisas para se brincar, explorar...Ele havia adorado a fazenda!
Sem aviso uma pedrinha foi atirada na janela de seu quarto. Ele se assustou e quase gritou, mas mal deu tempo de abrir a boca, outra pedrinha foi atirada. Ele foi até a janela e sua irmã estava embaixo chamando por ele.
- O que foi Suzana? Por onde você andou? Te procurei o dia todo! E porque esta ai parada me olhando com essa cara?
- Para de gritar e desce aqui seu idiota! Não quero que o papai me veja!
Ele desceu correndo as escadas e foi ao encontro da irmã. Ela estava esquisita, pálida, ele ficou ainda mais preocupado.
- O que foi? Onde você estava? Ele perguntou alarmado.
- Não faça perguntas idiotas e venha comigo, vou te mostrar uma coisa bem legal que encontrei. Disse isso e soltou uma risada esquisita.
Vitorio estava com medo. Não sabia porque mas estava sentindo muito medo da sua irmã naquele momento. Ela estava estranha, com um olhar esquisito, sorrindo estranhamente, mas o mais apavorante era sua palidez. Ela parecia um fantasma!
Mesmo assim ele a seguiu. A curiosidade foi maior e ele queria saber o que sua irmã poderia ter encontrado que fosse tão legal assim.
Ela é claro o levou pelo mesmo caminho que havia seguido algumas horas antes. Quando chegou na entrada do túnel ela parou e se virou para o irmão. Ele não conseguiu segurar um grito apavorado. Sua irmã estava olhando pra ele e sorrindo, só que não era sua irmã e sim um monstro apavorante que Vitório não havia encontrado nem nos filmes mais assustadores que costumava ver no quarto da irmã escondido de seus pais.
Ela olhou pra ele, sorriu e disse:
- Não se assuste irmãozinho. Vou te apresentar o meu mestre, que em breve será seu mestre também. Você vai gostar dele, primeiro vai se assustar, mas ele fará você perceber que ele é o melhor que poderia te acontecer. Vem, vamos entrar.
Vitorio tentou correr, mas sua irmã o agarrou como se ele fosse um boneco, e o levou para o túnel, em direção ao seu mestre....
Continua....
Capítulo 3
Vitório tentou se acalmar e conversar com a irmã:
- Suzana... O que houve com você? Você não quer fazer isso comigo... Somos irmãos, nos amamos e...
Suzana deu um tapa em seu rosto:
- Cale a boca. Não somos irmãos. Agora sou superior à sua raça. Em pouco tempo você também será superior.
Resmungando e chorando seu irmão implorava..
- Não faça isso comigo irmãzinha - prendia as mãos nas paredes de pedra do túnel atrasando o caminho. Deixe-me voltar...
Vitório começou a gritar e alguns morcegos no teto do túnel se agitaram e começaram a revoada. Suzana se assustou e o soltou para proteger o rosto. Foi o suficiente para que ele começasse a correr para fora gritando por ajuda.
Entrou em casa com pressa e percebeu que Suzana não entrava na casa. Não tinha sido convidada, logo ele se sentia aliviado. Subiu as escadas correndo para chamar os pais, enquanto pacientemente Suzana esperava sentada no alpendre com um sorriso sinistro desenhado nos lábios.
Vitório empurrou a porta do quarto dos pais gritando:
- Papai, mamãe, socorro.... - ofegante não dizia coisa com coisa - Suzana... caverna... monstro...
Mas seus pais não acordavam. E então, ele percebeu uma leve névoa que envolvia o rosto dos pais.
- O que está acontecendo? Estou vivendo em um filme de terror... - sentou-se no chão, e começou a chorar.
E então, ouviu uns ruídos no sótão e decidiu investigar. Alguma coisa precisava fazer. E ficar sentado no chão chorando não ia resolver. Decidiu agir como os valentes personagens de livros e subiu para investigar. Subiu a escada cautelosamente e com um rangido empurrou o alçapão. Espirrou com a poeira e empurrou devagar. Estava escuro exceto por uma nesga de claridade da lua, vinda diretamente da clarabóia. Empurrou mais e se amaldiçoou mentalmente por não ter lembrado de pegar uma lanterna. Quase instantaneamente percebeu o interruptor e acendeu. Uma luz fraca cobriu o ambiente e enquanto seu olhar se acostumava a nova luz, começou a investigar o local.
Percebeu muitas caixas empilhadas e com indicações: "Louça da vovó", "Álbuns de Fotografia", "Livros Antigos do Jeremias - NÃO MEXER" Sua mão coçou ao ler a inscrição e começou a afastar as caixas com cuidado. Aproximou-se da janela e percebeu que sua irmã ainda estava pacientemente lá esperando por ele. E nem precisava descer para saber que seus pais permaneceriam enfeitiçados e dormindo por aquela névoa. Só restava a ele encontrar a solução. Então, abriu a caixa e o cheiro de poeira e mofo o fez espirrar novamente. Arrastou a caixa para a luz e começou a tirar os livros da caixa. Encontrou vários títulos conhecidos "O velho e o mar", "Crime e Castigo", "Admirável mundo novo", "O apanhador no campo de centeio". Sabia que eram famosos, seu pai tinha contado algumas histórias para ele, mas o que lhe chamou atenção, foi um livro encadernado em couro, sem título na lombada ou na frente. Abriu cuidadosamente, limpando a poeira e assustou-se ao perceber que era o diário de seu avô, abriu a primeira página ansioso e leu:
"Este é um relato dos fatos que antecederam minha chegada à fazenda e o pacto com Lottar Gan Amon. Se você está lendo isso, é porque não vivo mais entre vocês e a situação está fora de controle. Sendo assim, continue a leitura e entenderá o que é preciso fazer"
Vitório se acomodou da melhor maneira para ler o diário e sentiu que seria uma longa noite...
CONTINUA .
Capítulo 4
Dona Santa, a velha rabujenta, não proferira as inúmeras exclamações avessas à tal fazenda de Vovô Jeremias em vão, não; ao menos a longa vida que alí passou mostrou-lhe motivos que ajudaram a engrossar o caldo da desconfiança e do temor para com aquele lugar!
Essa mulher nunca presenciara com os próprios olhos qualquer cena, qualquer fato concreto na vida isolada do sr. Jeremias que a enchesse de razões para afirmar que aquele homem possuía estranhos poderes ou, quem sabe, tivesse até algum pacto demoníaco...Uma coisa era certa, toda vez que uma pessoa da cidade era dada como desaparecida, dona Santa passava noites horríveis, com pesadelos horripilantes que chegavem - ao que parece - a transpôr a tênue linha do onírico, caindo no abismo da realidade, e uma realidade dura e cruel, pois se sonhava com um monstro pavoroso, de olhos incandescentes e longos caninos perseguindo uma vítima, podia ter certeza de que alguém estaria em vias de desaparecer e... desaparecia mesmo! Só não sabia quem seria a vítima, mas, o rosto do monstro, ahhh, esse era sempre o mesmo, garras enormes, uma cor pálida de morto, um morto-vivo, parecia até coisa de... vampiro! Bem, mas vampiros eram seres danados, frutos do imaginário coletivo e de uma porção de lendas espalhadas pelo mundo afora, não é verdade? E, religiosa como era, fazia suas orações diárias e pedia muita proteção para sí e para os outros.
- Há mais mistérios entre o céu e a terra que a gente não consegue imaginar! - dizia consigo mesma.
E o tempo passou depressa, devorando a saúde e a vitalidade daquela senhora até devolvê-la ao pó de onde viera...

... ... ... ... ... ... ...

Vitório nada sabia sobre isso, mas, curioso como estava e com a imaginação afiada comum num garoto de dez anos, abriu o diário e adentrou uma madrugada que nunca mais esqueceria. De uma coisa tinha certeza, lera o suficiente para concluir que ou seu avô era louco e dotado de uma imaginação fora do comum, ou, então, a fazenda que seu pai herdara fora palco de uma sórdida e nefasta mancomunação entre Jeremias e um filho das trevas, um vampiro real... que coisa!
A história começa em 1949, um pouco depois do final da 2a. Grande Guerra, quando Jeremias era ainda um homem de 32 anos de idade, cheio de vitalidade e vontade de abraçar o mundo... Trabalhava na marinha mercante e pouco pisava o solo firme, mas, em compensação, conseguía guardar práticamente todo seu salário, pois o emprego lhe oferecia moradia e alimentação, além, é lógico, de inúmeros encontros amorosos clandestinos.
Se marinheiro possuia fama de aventureiro no amor, ele não ficava para trás, justificando muito bem seu apelido de "big man", seja pela sua compleição física como, também, pelo seu jeito especial de conquistar mulheres...
- Mulher, prá mim, só 'filet mignon', boa de bolso e de rebolado! - brincava com os demais, vangloriando-se das inúmeras histórias com o sexo frágil.
Numa noite quente e de lua cheia, o feitiço virou contra o feiticeiro; ele foi cortejado por uma mulher muito linda, fascinante e sedutora e, ao mesmo tempo, exótica e misteriosa, dona de uma beleza escultural inigualável, uma pele tão alva quanto a luz do luar.
Nunca acontecara coisa assim; não parava de pensar nela o dia inteirinho e,à noite, no mesmo local, lá estava ela esperando-o, sabendo-o fora de sí e louco de vontade em possuí-la. Num desses momentos mágicos, levava-o até seu camarote, possuindo-o com uma voracidade e um rítmo incomuns que no dia seguinte se sentia como que anestesiado ou, quem sabe, embriagado, e nunca havia sentido algo assim tão delicioso com qualquer mulher que já conhecera!
Contava as horas do dia para, depois de seu expediente, ir direto ao encontro dessa fantástica fêmea, que já o esperava com o trinco da porta aberto... E cada noite que passava, tornava-se mais afoito por encontrá-la o mais rápidamente possível, e o interessante é que ela permanecia o dia inteiro alí trancafiada e com a janela fechada, como se a noite fosse seu habitat natural. E foi numa dessas noites que ela o mordeu de leve na jugular, sugando um pouco de seu sangue, o suficiente para deixá-lo louco de prazer, como se estivesse viajando num sonho onde se todas as suas células estivessem pegando fogo e essa incandescência estimulasse ainda mais seu gozo da cabeça aos pés...
- Coisa louca, ela sabe fazer isso tudo e nem deixa marcas no dia seguinte! Mulher nenhuma me fez sentir isso, nenhuma!
E como tudo tem seu preço, o que no início era novo e delicioso, acabou virando uma necessidade, e se sentia como que usado por ela - um objeto - e, pior de tudo, não conseguia mais ficar sem aquele rápido beijo mordido que o permitia alçar vôo e tocar as nuvens em êxtase total sem tirar os pés do chão...
- Quero mais, preciso mais, você só me dá uma míngua e, mesmo assim, só quenao está a fim...
- Calma, querido, reservo grandes surpresas para tí, é apenas uma questão de tempo! Temos de fazer aquela tal viagem, até Varna, na Bulgária, estás lembrado?
- Mas, e meu emprego? Não tenho permissão de sair assim, tão de repente, eu...
- Já te disse que terás uma surpresa e tanto, e verás o quão medíocre ainda és neste teu emprego também medíocre se comparado ao que te possibilitarei num futuro próximo! Não gostas de jogar? E te garanto que o prêmio será tã surpreendente que me agradecerás de joelhos por tudo que te permitirei ter...
- Mas, nem conheço você direito, apenas essas noites em que...
- Cala-te! Se falares assim uma vez mais acabo contigo! Prefiro ouvir um 'não' teu, curto e grosso, porém decidido; saiba que odeio indecisos, e tu estás me deixando irritada com isso! Vmaos, tens de decidir agora, caso contrário te deixo aqui e nunca mais me verás, muito menos...
- Não, não!!! Eu... bem, lógico que quero ir, mas tenho de preparar terreno e...
- Tolinho, teu terreno é isto aqui! - e lhe aplicou uma mordida profunda, o suficiente para deixá-lo em estado hipnótico, semi-consciente e totalmente entregue à vontade de Frantiska.

... ... ... ... ... ... ...

Quando voltou a sí, encontrou-se num lugar completamente estranho, escuro e inimaginável, parecendo mais uma cripta - sim, uma enorme cripta - onde dava para se ver enormes tumulos divididos em dois segmentos de seis gavetas cada. Havia poucas velas acesas que permitiam iluminar bem pouco o ambiente.
- Seja benvindo, caro Jeremias, e fique à vontade! Apenas não te assustes com o que estás vendo... E peço desculpas pela forma como aqui chegaste, mas dentro de instantes compreenderás tudo, e dentro do teu livre-arbítrio poderás escolher entre voltar à tua vida de antes ou, então, ajudar-me e, a partir daí, conquistar, assim, os benesses que te farão jus...
O marinheiro não acreditava no que estava vendo e ouvindo, um misto de história macabra e realidade.
- E quando sairei daqui!?
- Quando escutar o que tenho a te falar e, como já foi dito, fará a escolha que quizer. Senta-te, estás um pouco tonto mas isso já passa! Meu nome é Lottar Gan Amom e sou o que realmente imaginas, um vampiro! - ante o olhar confuso e atônito do indefeso homem ele continuou...
- Sou antigo, tenho mais de 300 anos, e já presenciei fatos indescritíveis no decorrer de todo esse tempo. Como posso ter essa idade? Hahaha, ao tornar-me um vampiro abrí mão de minha vida, morrí para ela mas, em compensação, renascí com a morte, acredite, por isso sou predaror e me alimento de sangue - a fonte inesgotável de minhas energias e de minha imortalidade!
- Ma... Mas eu...
- Sem mas, pois não és estúpido e sabes muito bem que falo a verdade! Mas não estou aqui para oferecer-te a eternidade, em absoluto! Pelas nossas leis próprias não me é permitido conceber esse dom a qualquer um, temos códigos de ética nossos e os mesmos têm de ser cumpridos! Quero te propor uma coisa, necessito de tua ajuda e meus poderes telepsíquicos me fizeram descobrir-te em meio a toda essa massa humana, pois és um ser especial, tens vitalidade, energia, beleza física, personalidade forte e uma têmpera sexual que faz inveja a muitos dos de tua espécie... Aqui em meu território, já não é mais possível me comprazer em meus limites, entendes, o lugar é pequeno, a população tem aumentado sensivelmente e estou percebendo que necessito de um lugar maior e melhor, onde possa me transferir juntamente com minha amada Frantiska! e sei que em teu país, o Brasil, há lugar para muita gente, muita gente que pode vir a se tornar presa fácil e, lógico, amparado em tua ajuda e colaboração. Para isso, basta apenas que me ajude a firmar meu território por lá e te farei meu servo fiel, onde terás propriedades, dinheiro e, o principal, fartura e abundância em tua vida mortal. Veja bem, não te proponho em absoluto conceder-te o Dom das Trevas... reinarei juntamente com minha parceira por tempos que não conceberias imaginar, e serás meu primeiro ajudante - um fiel ajudante em quem depositarei meu segredo e dividirei direitos e obrigações. Mas tuas obrigações serão justas, precisas e imutáveis; nunca me farás quaisquer ameaças à guiza de chantagem, nunca! E te falo isso por experiência própria, adiantando-te que se isso um dia vier a a contecer, terás um fim horrível, esse é o preço que pagarás por tua infidelidade. Mas, ao contrário disso tudo, terás uma vida normal invejável, serás respeitado por teus domínios, teus bens e tua imagem social.
- E se eu não quizer saber disso? Se quizer ir embora agora e nunca mais voltar, como é que...
- Então vais e te prometo que nunca mais saberás de mim. Mas pensa bem, há oportunidades e ofertas irrecusáveis que chegam escancaradas aos olhos que, quando negadas, nunca mais voltarão a nos seduzir, nunca mais! É um direito teu recusar, mas tenho certeza que teu espírito aventureiro e desejoso do querer mais e mais não há de te trair agora, pense bem! E... Um detalhe a mais, apenas saiba que, como parte de nosso pacto, no dia que vieres a falecer, teu corpo será reclamado por um filho meu que continuará por aqui por um bom tempo ainda, e serás enterrado aqui, neste solo. É só!
- Mas por quê deverei ser enterrado aqui, neste lugar!?
- Por uma questão de tradição nossa, uma homenagem aos nossos que já deixaram de existir ou que já se foram para outros lugares distantes, e a tí próprio, que propiciarias uma nova ramificação em tua terra, entendeste...?
O diário era bem extenso, mas Vitorio leu o suficiente para, compreender a trama densa e horrível que representou e ainda representava a fazenda de vovô Jeremias. Estava atônito, não sabia o que fazer, sua irmã o esperava lá fora e sabia muito bem quais eram suas intenções...


... ... ... ... ... ... ...

A leitura foi o suficiente para que Vitório entendesse o no que estava envolvido. Mas queria ajudar Suzana, e não sabia como. Ela era um deles agora e o queria. E estava lá fora, ele podia ouvi-la cantar uma música sombria, numa língua que lhe soou estranha, porém a horripilação tomava conta de seu corpo. Largou o diário no chão, andando de um lado a outro freneticamente, tomado pelo desespero total.
_ Irmãozinho... Eu tenho todo o tempo do mundo! A eternidade, pra ser mais clara. Mas se sair daí logo, tudo ficará melhor, especialmente para nós!
A voz dela agora era mais suave, mas carregada de ironia. E ele sabia que não podia fugir.
_ Venha, Vitório, venha para nós...Venha para a vida eterna! Aceite a dádiva que lhe foi dada.
Ele percebe agora outras vozes, como num coro, e eles repetem a frase várias vezes.
_ Venha para nós, venha para a eternidade...
Os sons externos mesclam-se com seus pensamentos perturbados pela melodia macabra que toma conta de seus ouvidos. Tudo girando agora. Ele escuta o riso deliberado de Suzana, e as outras vozes repetem a frase incessantemente. Tudo girando, o desespero em cada parte do corpo. Tudo girando.
A claridade o desperta, está deitado em sua cama, Suzana abriu as cortinas rispidamente. Sua cabeça dói e sente-se atordoado. Aos poucos entende que desmaiou e fora levado de volta a casa. Ela se aproxima dele, toca em suas mãos, mas Vitório bruscamente sai correndo.
_ Não há para onde fugir..._ Ela fala e sua voz parece penetrar a mente dele._ Você é o escolhido, aceite seu destino, essa dádiva que lhe foi dada. Vovó Jeremias estará te guiando. Ele e os outros. Não tenha medo, você não está só.
Era clara a maldição que recairia sobre ele. Enquanto corria inevitavelmente, a voz de Suzana e suas palavras o perseguiam. Não teria como escapar do seu macabro destino.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

MESSIAS - O MENSAGEIRO DA MORTE

Os lábios se tocavam. No começo delicadamente, depois a língua entrava na boca se enroscando com a outra, o céu da boca era levemente flexionado, ele explorava a boca dela.

O vestido foi rasgado enquanto ela tirava a camisa dele, mordendo o mamilo, ele jogou-a na cama de bruços puxando os seus cabelos.

Ele beijava a costa e o pescoço, arrancou a calcinha com os dentes e mordeu suas nádegas.

Ambos agora nus, ele por cima dela, beijos, carícias, ela sentindo aquele homem viril dentro dela, entrando e saindo. Os gemidos de prazer eram escutados por todo o motel, ela nunca tinha sentido assim.

Vários orgasmos percorreram seu corpo inteiro, foram horas de prazer, aquele homem era insaciável, ela agüentou o quanto pôde para não desmaiar. Ele urrou. Ela sentiu aquele jato dentro dela, sobre ela.

Havia acabado, ele estava satisfeito, era um homem esbelto, belo e viril. De repente, ela olhou dentro de seus olhos e viu o horror, a maldade. Não havia mais desejo de sexo e sim de morte, antes que ela pudesse reagir, ele quebrou seu pescoço.

Ela era apenas mais uma de suas vítimas. De cidade em cidade, de país em país em que Messias passava, pelo menos uma mulher era assassinada, não havia nada que ligasse as mulheres entre si. Messias não se importava com idade, cor, classe social. Era o assassino em série mais difícil de ser encontrado.

Suzana abriu o jornal naquele dia e leu a manchete na primeira página: Cuidado você pode ser a próxima vítima.

Riu do sensacionalismo do jornal e saiu. O que importava mesmo era que encontraria com o rapaz que conheceu pela Internet há alguns meses. No parque perto da casa de Suzana, Messias observava aquela que seria a sua próxima vítima.

domingo, 21 de junho de 2009

O Reflexo da Maldição - Por Adriano Siqueira


Acordei com um barulho, parecia um grito.

No caminho para a cozinha vejo uma gota de sangue no chão. Rapidamente chamo por minha mulher. Não ouço resposta. Vou para o quarto da minha filha e vejo o que eu temia. Ela estava olhando para mim. Com os olhos arregalados e algumas partes do seu corpo, estavam espalhadas pelo quarto. Comecei a vomitar, não acreditava no que via!

- Minha filha!... Meu Deus! Quem teria feito isso?

Andei bem devagar... Olhando para seus olhos, toquei em seu rosto ensangüentado... Lembrei dos momentos em que a vi crescer.

Não conseguia tirar os olhos do corpo mutilado. Foi quando eu vi... Vi claramente ela sorrindo. Sua cabeça virou em minha direção... Eu cai de joelhos e coloquei minha mão na boca para não gritar. Meu Deus... por favor meu Deus... Seus pedaços pelo chão. E se ela perceber que faltam algumas partes do seu corpo. O que vou fazer? Ela sorriu...

- Pai, Me abraça?

- Eu estava louco? Fiquei ali. Paralisado e apavorado.

- Me abraça papai!

- Eu me arrastava tentando compreender tudo.

De repente ela começou a gritar desesperadamente!

- Lobisomem! Papai! Me ajuda! Quando olhei para trás vi a fera com sangue na boca e os olhos vermelhos. Uivando, enquanto suas garras me rasgavam.

Consegui me livrar e corri para a cozinha. Minha mulher estava de costas perto do fogão. Porque ela não me ouviu gritar? Ela estava tirando os bolinhos de queijo do forno e falou comigo sem me olhar:

- Querido! O café está quase pronto.

Lourdes a nossa filha...

- Oh! Sim ela já vem.

Ela virou para me olhar... Seu rosto estava todo estraçalhado, a pele caia, misturando-se com o seu pescoço e sua roupa estava ensopada de sangue...

- Lourdes, Meu Deus!

Ela cai sem vida.

Escuto novamente aquele uivo.

Saio de casa e corro pela floresta. Meu coração estava disparado... Gritei por socorro, mesmo sabendo que ninguém me ouviria ali. Cansado, desmaiei proximo a estrada...

Aos poucos meus olhos se abriram e eu estava em uma cama. Aos poucos fui conhecendo o local. Eu estava na casa do meu irmão Heitor.
A porta abre e Verônica aparece com um pouco de chá.

- Você teve uma noite difícil.

Verônica era a esposa do meu irmão.

Minha família? Um lobo... Devorou minha família.

- Eu sei.

Ela me abraçou por alguns instantes.

- Deus! Eu ainda não acredito o que fizeram com a sua família.

- O lobo... Tinha um lobo...

- Como era o lobo?

- Grande... Parecia humano... Grande demais para um lobo. Ele andava como a gente. Nunca vi algo assim.

Ela estava olhando fixamente para mim, e aos poucos Verônica desabotoou a sua camisa e me disse:

- Era humano?

- Não, era um lobo. Olhos vermelhos. Todo preto. Garras enormes não pareciam ser de um simples lobo. Parecia mais um leão. Seus olhos eram a própria morte.

Ela olhou para mim e abriu a camisa sorrindo.

- Olhe, veja o que ele fez. Venha me dar um beijo?

Ela estava sem a pele da barriga... Tinha sangue por toda a calça.

- Pelo amor de Deus Verônica! Por favor! Não chegue perto de mim. Por favor.

- Mas eu quero você. Quero fazer amor. Antes que o lobo apareça.

Eu escuto o uivo novamente quando o vejo na janela, e saio correndo.

- Volte Cícero! Não corra do lobo! Eu preciso de você!

Olho para trás e ainda a vejo cair sem vida.

Continuo correndo pela floresta. De repente alguém me segura com toda força. Tento lutar, mas é em vão. Quando minha visão clareia, vejo que é meu irmão Heitor que estava me segurando.

- Pare! Eu sei quem é o lobo. Venha! Venha agora!

Eu não conseguia mais falar. Ele me pegou pela mão e me levou para a casa do meu outro irmão, Doutor Prático ou simplesmente Doc, um apelido que usavamos depois que ele se formou em veterinária. Era bem perto dali. Ele falava muitas coisas, mas eu ainda não entendia direito o que estava acontecendo. Já não sabia se era real ou pesadelo. Minha cabeça era um grande vazio preenchido pelo terror. Era muita coisa em uma só noite.

Entramos na casa do Doc. Lá, tinha uma grande sala e fiquei no sofá.

- Cícero. Fique aqui. Vou chamá-lo.

Espero por um momento e logo vejo meus irmãos vindo em minha direção e discutindo:

- Não me importa! Sinceramente isso não é da minha conta. Você sempre protegeu o nosso caçula. Resolva o problema você mesmo. Ele deixa Heitor na sala e sai rapidamente daquele cômodo sem falar comigo.

Eu não acreditei! Nossa família estava morta e o meu maldito irmão mais velho não queria se envolver?

- Não se preocupe com ele Cícero. Ele sempre foi assim.

De repente escuto as portas e janelas se fechando.

Ouço uma gargalhada. Era o Doc. O som era alto, estava vindo de um autofalante colocado na sala. Fiquei atento, ouvindo tudo:

- Heitor! Heitor! Finalmente você entendeu que nosso irmão caçula deve morrer.

- Por favor! Não faça isso Doc! Eu sei que você me avisou, mas eu simplesmente não posso. Não posso! É nosso irmão! Será que você não tem coração.

- Eu tinha... Até o lobo aparecer em nossas vidas. Até ele destruir nossa família e por isso hoje sei o que deve ser feito.

Fiquei desesperado. Nossas famílias mortas e eles discutindo daquela forma? Não fazia sentido! Eu tinha que dizer algo.

- Do que é que vocês estão falando? Heitor? Doc? Por favor, vamos chamar a policia. Nossa família está morrendo por causa desse maldito lobo.

Heitor abaixa a cabeça, olha para a cintura, pega uma arma e aponta para a minha cabeça.

- Cícero. Perdoe-me Eu não tinha coragem para fazê-lo, mas vendo você mencionar a família só me da mais coragem de atirar. Por favor, não se mova.

- Mas que diabos está acontecendo aqui? Porque esta apontando essa arma para mim?

Heitor, com a arma na mão fala para o Doc.

- Eu sei que está certo. Sei que viveu seus últimos quinze anos estudando veterinária. Escreveu muitos livros sobre a vida dos lobos. Cícero merece saber a verdade antes de morrer...

- Tudo bem Heitor eu conto:

- Cícero, quando éramos mais jovens, fomos atacados por um lobo você lembra?

- Sim Doc! É Claro. Ele voltou e é por isso que estamos aqui pedindo ajuda, mas eu não esperava que meu próprio irmão apontasse uma arma para mim...

- Eu salvei vocês dois, só que Heitor me escondeu um segredo.

- C... Como assim? Que segredo?

Heitor corre em minha direção e me segura pelo colarinho, aponta a arma para minha cabeça e grita:

- Ele te mordeu idiota! Será que não se lembra disso? O maldito lobo te mordeu!
Eu escondi este segredo de você e do Doc, mas ele sempre desconfiou. Por isso ele colocou uma bala de prata neste revolver. Para acabar com isso. Acabar com sua vida. Com a maldição e principalmente matar o Lobo.

- Lobo? Eu? Você está Louco. Eu o vi!

Eu não estava acreditando. Meu próprio irmão dizendo que eu era o autor dos assassinatos, da minha própria filha, esposa e cunhada. Heitor me levou até uma das janelas da sala... Olhei para a janela e Gritei.

- O lobo! Ele está bem aqui na janela! Atira Heitor! Atira Agora.

Ele me segurava e gritava.

- Cícero esta não é uma janela comum. Ela é de prata. Está mostrando seu verdadeiro reflexo. Você esta vendo o que realmente é.

Oh. Meu Deus. Não é possível. Não pode ser. Eu, eu...

Não havia mais o que falar. Fiquei olhando meu reflexo. Estava, o tempo todo, tentando fugir de mim mesmo, dos meus crimes, da minha maldição.

Por um momento olhei para o Heitor e finalmente disse.

- Então atira. Atira agora e acabe com isso de uma vez!

Heitor me empurra e caio sentado no sofá. Ele aponta a arma no meu peito e fica tremendo... Eu fecho os olhos e escuto ele dizer que me ama e logo em seguida um tiro. Dou um grito.

Finalmente escuto o Doc correr para a sala.

- Não... Não!

Eu abro os olhos e vejo Heitor no colo do Doc. Atirou nele mesmo e estava sangrando muito, mas ainda estava vivo e disse:

- Fracassei Doc! Ele é meu irmão... Eu o amo.

Vejo Heitor lentamente para de respirar. O Doc fica chorando.

- Era para ser tão simples... Tão... Tão "Prático".

Eu queria dizer algo, mas não conseguia me mover. Algo me possuía. Olho para a janela e a vejo quebrada. A bala passou por Heitor e quebrou um dos vidros da janela. Fiquei tonto e a última coisa que vi foi a lua cheia, através da janela.

sábado, 20 de junho de 2009

Noite de loucuras

Noite de loucuras

By. N.E.I.’.

- Que peitos! – Marcos pensou, enquanto bebericava sua caipirinha.

Balada de sábado, toda semana Marcos estava lá, na mesma danceteria, tomando a mesma coisa, e porque não dizer, procurando a mesma coisa.

A busca era incessante, Marcos já tinha 27 anos, mas ainda não achara a mulher ideal, sua mulher idealizada. Procurava freneticamente desde a sua adolescência. No colégio não achou, na faculdade pensou ter achado, mas foi propaganda enganosa; no trabalho ele teve poucas chances, a loja onde ele era vendedor só trabalhavam homens, e era voltada ao público masculino, de modo que a esperança era sempre a noite de sábado, na balada.

Morena clara, olhos verdes (seriam naturais?), um corpo cheio e bem distribuído, pernas grossas na bermudinha, pés bem feitos, com unhas ao natural e, claro, aquela maravilha da natureza que enfeita a traseira de toda verdadeira mulher brasileira: um bundão! De fato, com aquele belo par de seios, era ela, ou a chance de ser era bem grande e valia qualquer risco. Marcos foi.

A primeira tentativa não foi bem sucedida, a inexperiência de anos de teoria com pouca prática cobrava o seu preço. A abordagem foi a mais ridícula possível, e Marcos retornou ao balcão vermelho, envergonhado e irritado pelo ocorrido: u par de sonoras gargalhadas de Jéssica e Claudia (a morena e sua amiga). Outra caipirinha, a noite estava começando, ele haveria de bolar um plano.

Fitou as duas por mais algum tempo, elas se requebravam na pista de dança, ora sozinhas, ora acompanhadas, o ritmo era de flashback, muito balanço e ginga. As duas se sentaram com dois rapazes numa mesa, foram se refrescar, tomar alguma coisa, flertar e descansar. De longe Marcos observava, olhos fixo, arregalados, torpes de paixão e ódio. Era ela, e seria dele.

Outra rodada na pista de dança e foram as duas ao toalete, hora de se refrescar, retocar a maquilagem, dar um tapa no visual, arrumar a roupa para ao final da festa. Saindo do banheiro, foram abordadas por Marcos. Ele estava armado, teriam que sair com ele da boate, e sem reclamações ou protestos. Aonde iriam? Marcos tinha um lugar. Era pequeno, frio, bem escuro, mas com uma bela cama preparada, preparada há anos...

A saída foi fácil, naquele horário, a maioria estava de fogo, entrando e saindo, de modo que ninguém percebeu a saída daquelas três pessoas bem juntinhas, era normal, como saber se não era mais um trio partindo para uma suruba? Era normal, absolutamente corriqueiro por lá. Entraram no carro de Jéssica e tomaram o caminho indicado por Marcos, em breve estariam lá, não era longe, vinte minutos bem acelerados na BMW zerada de Jéssica.

Chegaram. A rua era bastante clara, iluminada, nem parecia uma rua de São Paulo, onde a prefeitura anda economizando nas luzes, deixando a cidade às sombras, a casa era pequena, com uma entrada bem escondida e sem garagem. Entraram. Lá dentro Marcos amarrou Claudia, que tinha entrado na aventura apenas por azar, uma vez que o verdadeiro objeto do desejo era Jéssica, a mulher ideal, procurada por anos e finalmente encontrada. Era ela, não havia dúvidas.
Uma vez amarrada Claudia, Jéssica não seria páreo para Marcos, de modo que ele não precisava mais de arma, poderia descartá-la e iniciar a corte. Foi até a parte de cima do sobrado e trancou a arma numa escrivaninha, escondendo a chave. Claudia estava lá, amarrada e amordaçada.

Desceu, Jéssica estava sentada no sofá, calmamente olhando para a escada, aliás, todo o processo foi muito calmo, nenhuma das duas reclamou, protestou, chorou ou gritou. Seguiram as instruções como se fosse um roteiro predeterminado, muitas vezes treinado e executado. Marcos estava adorando, parecia que Jéssica não estava lá contra sua vontade, mas sim em seu próprio domínio da situação, feliz e, aparentemente sorridente.

Marcos senta-se próximo a ela no sofá, olha em seus olhos, vê beleza e desejo, acaricia seus cabelos, ela sorri, um abraço correspondido, uma declaração inocente de amor, com juras e palavras banhadas a lágrimas, toda aquela espera havia terminado, ele achara a mulher ideal, o seu objetivo de vida, e parecia que este amor era correspondido, entendido, vivido e sentido em toda sua emoção.

Puxou uma perna para cima, descalçou as sandálias e iniciou uma massagem lenta, tímida e desajeitada no pé direito dela, apertava os dedos, ela fechada os olhos, a madrugada estava apenas começando...abaixou-se para um beijo naquele pé de deusa, mordiscou os dedinhos, subiu pelo peito do pé e começava a explorar os tornozelos...quando sentiu uma forte pontada nas costas, a região dos rins parecia em brasa!

Virou o rosto e se deparou com uma Jéssica mudada, as feições duras, malévolas, aqueles olhos de esmeralda fixos nele, na mão esquerda um punhal sujo de sangue. Suas costas doíam, sentia o formigamento nas pernas e sua camisa se empapando de sangue.

Num gesto brusco, Jéssica o jogou ao chão, ele caiu e rolou para não bater as costas. Tentou se levantar, mas as pernas não obedeciam, estavam dormentes, caiu novamente. Olhava apavorado para sua mulher ideal, sua deusa desejada, não entendia como isso tinha acontecido.

Jéssica se levantou, punhal na mão e aproximou-se dele, dizendo: “desta vez foi mais fácil do que parecia, normalmente não é difícil para Claudia e eu levarmos um cara para uma festinha prive, a grande maioria não resiste quando falamos que queremos experimentar uma aventura a três, mas você acabou fazendo o serviço por nós, nos poupou do risco que correríamos, quero lhe agradecer por isso, seu idiota!” E a risada insana percorreu a casa toda enquanto ela subia para desamarrar a amiga.

Marcos tentou se arrastar até a porta, ele tinha as chaves no bolso, quem sabe poderia tingir a rua, mesmo se arrastando. As costas doíam, as pernas adormeceram, mas pareciam que estavam sendo moídas a cada esforço para se arrastar, uma trilha de sangue o seguia pelo trajeto.

“Onde você vai querido? Vai sair sem suas duas gatinhas?” Elas já estavam embaixo, sua mão ainda não havia tocado a maçaneta, era o fim da linha.

“Você queria uma festinha, você terá uma festinha, somos suas pela noite toda, e é bom você dar conta de nós duas, porque se você não conseguir e falhar...ZAS...eu corto fora!”

Agora o pesadelo de Marcos havia começado, ele teria na cama sua deusa e mais uma amiga, transar com duas mulheres ao mesmo tempo: o desejo de 10 entre 10 homens, restava apenas saber se depois de todo aquele terror, e ferido, ele daria conta daquela madrugada recheada...ou se ele seria uma nova pessoa no dia seguinte, provavelmente com alguma coisa a menos no corpo...

F I M

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Pessoas estranhas.






Jean sempre foi um cara decente, boa índole, educação de berço, uma inteligência invejável. Jamais pensou que poderia acontecer a ele o “impossível” e que ele não pudesse contornar. O que faz um homem como ele, resolvido, adulto, bonitão e politicamente correto entrar numa dessas de “MALDIÇÃO”? Bem, vou contar e me digam o que vocês acham.



Foi numa noite de lua cheia quando ele era um jovem que saía para se divertir com um grupo de amigos de escola. Resolveram fazer uma festinha inocente com garotas, violão, uma fogueira e bebidas. Local: Sítio do pai de um dos amigos. Fizeram uma brincadeira e quem perdesse, teria que fazer algo que o grupo escolhesse. Sobrou pra Jean lógico, como sempre. Ele estava levemente alto devido àquelas bebidas todas, pois não estava acostumado a isso. Os amigos disseram para entrar no meio do mato e trazer uma pedra que se encontrava próxima ao riacho. E lá foi ele atrás. Estava muito escuro. Apenas escutava o barulho dos animais noturnos. Mas foi sem medo. Quando de repente, escutou um barulho vindo da mata. Parecia um animal bem afujentado. Quando ele menos esperava, surgiu diante dele um lobo enorme. E pelo olhar maligno, o seu propósito era jantar Jean. Acho que o animal deve tê-lo farejado como os moleques fazem quando sentem o cheiro inconfundível de um delicioso lanche quando se está com fome. Jean esfregou os olhos e olhou novamente pra se certificar de que não estava sonhando, viu um cachorrinho inocente no lugar do lobo. Bem, ele não sabia se corria, gritava ou simplesmente se fingia de morto (saibam que essa técnica só funciona com ursos) ou acreditava na segunda visão, a do cachorrinho meigo e inocente? Sorriu, pensou estar ficando louco, virou as costas e seguiu quando escutou um uivo arrepiante. Afinal, o que estava acontecendo a Jean? Estaria imaginando coisas? Ele olhou para trás e viu quando a fera demoníaca iria fazê-lo virar jantar. Escuta-se um tiro de rifle. Nesse exato momento, a fera já tinha se preparado para atacá-lo mas foi o alvo do tiro. Porém, ele viu que a fera o tinha arranhado. Seu braço estava com a marca das garras do estranho lobo. O homem que atirou apareceu do nada e saiu arrastando o bicho até onde seus olhos puderam alcançar, notou que a fera ia mudando de aspecto. Estranhamente sumiram na escuridão. Jean ficou atordoado pensando se o que acabava de ver teria sido real. Teve a sensação de já ter vivido aquilo.

Bem próximo já se encontrava o riacho em que ele catou a pedra e voltou correndo para casa onde estavam os amigos. Quando contou o caso, deram risadas e disseram que sua imaginação estava pregando peças. E quando foi mostrar as marcas que a fera tinha deixado no seu braço, cadê? SUMIRAM! Eles rindo e ele assustado e muito impressionado com o sumiço das marcas. Todos foram dormir, menos Jean, ele se deitou mas o sono não vinha. O fato é que enquanto todos dormiam, Jean atacou um a um, mordendo e arrancando pedaços com os dentes, ele estava totalmente transtornado. Em uma de suas mãos havia uma faca que ele pegou na cozinha. Cada vez que mordia um amigo, o esfaqueava em seguida até a morte. Do mesmo modo mordeu e esfaqueou a todos, depois voltou pra cama e adormeceu. Acordou no dia seguinte com a roupa toda ensaguentada, assustado, sem saber o que tinha acontecido. Não se lembrava da noite anterior.

Sons de sirene de carros de polícia se aproximaram, Jean ficou imóvel sentado em sua cama. Os policiais entraram na casa e encontram todos os amigos mortos, menos ele que estava em estado de choque.

Jean havia fugido do manicômio, ele era um jovem com sérios problemas psiquiátricos, não podia beber que sempre atacava quem estivesse por perto do mesmo modo. Tendo sempre as mesmas visões, ora via um lobo, ora via um cachorrinho. Perdia a noção. Isso só acontecia quando ele ingeria álcool, mas quando estava sóbrio não sabia que não podia beber. A família o havia internado alguns meses atrás. Na fuga, ele foi pra casa de um colega de escola e com ele programou essa festinha onde tudo aconteceu. O lado negro da mente de Jean só se manifestava quando ele estava sob o efeito de bebida, aí, ele se tornava um monstro. Quando seu organismo estava limpo, Jean não passava de um jovem meigo. A mistura do cãozinho e do lobo representavam na verdade, os dois lados da personalidade de Jean. Mas agora, ele estava novamente de volta ao manicômio, não representava perigo... pelo menos... não até a próxima fuga!


Mr. Jones

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Seu nome era Vilma




É, chegou meu dia.
O que nos é mais precioso? A família? Os Amigos? A vida? Devemos abandonar tudo por um sonho? Conheçam Vilma.


Por Jack Sawyer
http://contosfantasticosdesial.blogspot.com
jack.sawyer@itelefonica.com.br

Seu nome era Vilma. E Vilma era alegre e descontraída. Tinha muitos amigos e estava sempre passeando com eles na praia, no shopping e nas baladas de fim de semana.
Era amável com os colegas de serviço e todos gostavam dela.
Mas de uns tempos pra cá, Vilma vinha tendo uns sonhos estranhos. Sempre o mesmo.
Em seu sonho, um rapaz muito belo vinha lhe visitar a noite. Entrava pela janela mesmo ela estando fechada. Ficava parado ao lado de sua cama sem nada dizer. Vilma o via, mas também não dizia nada. Queria falar, queria tocá-lo, saber que ele era, mas ficava hipnotizada por aquele rosto redondo com olhos azuis tristes.
Ia trabalhar triste e com raiva ao mesmo tempo por ter que acordar cedo. Já não era tão amável e alegre. Ficava sempre distraída e não prestava atenção ao que outros diziam. Seus colegas de serviço começaram a se afastar dela. Ela achou até bom, pois assim ninguém a convidaria para sair depois do expediente. E tudo o que ela queria depois do trabalho era voltar pra casa e voltar a dormir, para poder reencontrar seu amigo misterioso que só a visitava em sonhos. Já não se alimentava direito e sua magreza e palidez preocupavam seus amigos que, sem sucesso faziam de tudo para tirá-la de casa. Por falta de atenção e constantes atrasos, havia sido demitida do emprego. Passou a viver reclusa em casa. Se recusava a receber qualquer pessoa, amigos ou parentes.
Em uma noite, no meio de seu sonho, ele estava lá novamente. Parecia mais triste que antes.
Na manhã seguinte, foi a um mercadinho que ficava próximo à sua casa. Era o mais longe que ela se afastava.
No retorno, ela o viu. Estava como se apresentava em seus sonhos. De terno. Bem alinhado. O mesmo rosto redondo e olhos bem azuis, mas sem o ar de tristeza. Vilma olhou para o chão e viu seu reflexo em uma poça d´água e ficou envergonhada.
Tinha perdido seu viço e sua beleza. Parecia ter envelhecido uns vinte anos nestas ultimas semanas. Tinha o rosto murcho e todo encovado. Profundas olheiras escuras marcavam seus olhos, antes tão alegres.
Ela levantou a cabeça e olhou-o novamente. Ele estava sorrindo agora e ela também, como se há muito tempo esperasse esse momento. Ele se aproximou dela sem se mover, como se flutuasse. Vilma tomou coragem e falou com ele.
- Você está aqui para me levar não é? – Vilma perguntou, mesmo sabendo a resposta.
Ele não respondeu. Apenas balançou levemente a cabeça afirmando.
- Você é um anjo? – Vilma fez nova pergunta, apenas para confirmar sua suspeita.
Ele confirmou com um aceno de cabeça positivamente e ao mesmo tempo ia abrindo suas asas.
Vilma deu um passo à frente querendo tocá-las, mas ele se afastava.
- E quando vai ser?
Com uma voz forte que não condizia com seu aspecto fino, ele respondeu para Vilma.
- Agora.
Vilma estava tão fascinada com a imponência do anjo que não ouviu a buzina do ônibus que vinha em sua direção. Sem perceber, Vilma havia caminhado até o meio da rua. O ônibus tentou frear e desviar dela, mas sem sucesso. Ela bateu na lateral do ônibus e na queda, foi atropelada pelas rodas traseiras tendo morte instantânea.

****

Vilma abre os olhos e vê aquele monte de gente em volta dela. Ela se levanta tirando o pó da roupa.
- Calma gente, não aconteceu nada. Está tudo bem.
Quando percebe que ninguém dá atenção a ela. Continuam olhando para o chão com caras tristes. Ela tenta se apoiar na lateral do ônibus e se desequilibra. Sua mão havia atravessado o ônibus. Ela olha novamente para trás e vê a si mesma, ali, deitada no chão toda ensangüentada. Uma massa disforme no lugar da cabeça e os membros virados em posições antinaturais.
Afastado da multidão, estava o anjo. Com as asas abertas agitando-as no ar, e um sorriso no rosto.
Vilma tentou afastar a multidão, mas não era necessário, pois ela passava através deles.
Como antes, quanto mais tentava se aproximar do anjo, mais ele se afastava.
- Espere, espere. – gritava em vão.

****

Vilma acorda assustada e ofegante. Parecia que havia acabado de correr a maratona. Lembra-se do sonho e corre até o espelho. Observa-se detalhadamente. Não havia nada. Suas bochechas ainda estavam gordinhas e rosadas. Não havia olheiras. Os olhos estavam meio inchados por ter dormido demais.
Fora só um sonho
No celular, em cima do criado mudo tinha uma mensagem. Era de suas amigas.

“Vi, não esqueça da festa de aniversário da Linda hoje a noite. Aquele gatinho dos olhos azuis vai estar lá. Venha bem produzida. Beijos.”

- É claro que irei. – murmurou Vilma.

Fim

Jack Sawyer

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A morta na estrada

Esse texto se refere a um conto que ouvi anos atrás. talvez alguns de vocês também já o tenham ouvido. Trata-se daqueles casos que viram lendas urbanas... ou não!
A estrada estava vazia, chovia muito e José estava cansado de dirigir, mas como todo caminhoneiro, ele não reclamava do batente. Dirigia enquanto o rádio tocava suas canções preferidas. Faltava pouco tempo para chegar em casa, em breve, estaria junto de sua esposa. Enquanto permanecia na estrada, o rádio era seu companheiro fiel. Vez ou outra passava um carro ou caminhão.
José cantarolava uma canção e seguia seu caminho sonhando com aquela comidinha caseira gostosa que sua esposa fazia tão bem. Que tempero! Ele imaginava aquele abraço carinhoso recepcionando sua chegada, aquele sorriso de satisfação e o mais lindo brilho no olhar.
Estava começando a sentir sono, não desejava parar pois precisava chegar logo. E faltava tão pouco. Porém, estava difícil conter o sono, ele nem percebeu aquele corpo estirado na estrada, o corpo estava posicionado meio na diagonal. Metade no acostamento e metade na frente do caminhão, de repente, José passou por cima das pernas e abriu os olhos com o impacto. Ficou assustado sem saber o que fazer. Pensou se teria atropelado alguém, sentiu-se arrependido por não ter descansado um pouco mais. Abriu a porta e desceu. O corpo era de uma mulher e pela aparência já estava ali há bastante tempo. Ninguém havia percebido e se ele estivesse atento à estrada, talvez nem ele. Pensaria ser algum animal morto e iria desviar.
A noite estava muito escura e a chuva não cessava. José olhou no relógio e já eram quase 23 horas, pretendia chegar em casa antes da meia-noite. Além dele e daquele cadáver, nada mais havia na estrada. Silêncio total. Ele pensou que seria melhor ir embora, afinal, ela já devia estar morta há horas. Ao chegar em casa, daria um telefonema anônimo para a polícia e estaria tudo resolvido. No entanto, antes de entrar no caminhão, olhou para as mãos da mulher e viu um anel muito bonito. Ele sabia reconhecer uma jóia. Era ouro maciço e a pedra, sem dúvida, uma esmeralda. Ele não pensou duas vezes e tentou pegar o anel, mas não saía. As mãos dela estavam inchadas. Que desperdício deixar aquele anel no dedo de uma morta. Pensou bem e se lembrou do canivete que trazia com ele no caminhão. José não pensou duas vezes, cortou o dedo da defunta, pegou o anel e subiu.
O rádio tocou uma canção antiga e José sentiu uma estranha nostalgia, mas ele estava satisfeito porque teria um presente de qualidade para sua esposa. A consciência não pesou, aquela mulher estava morta. O sono havia passado, ele estava bem perto do caminho que o levaria para seu tão esperado lar. Foi quando um pouco mais à frente, alguém fez sinal pedindo carona. Ele hesitou, mas a chuva estava muito forte e o frio também. José parou o caminhão e perguntou onde a pessoa iria, ela respondeu que não muito longe e ele informou que estava perto de casa, mas que a deixaria na estrada antes de sair dela. A mulher sorriu e entrou. Usava um véu.
José começou a conversar sobre o tempo e questionou sobre ela estar sozinha ali numa hora daquelas, mas a estranha não respondia, apenas olhava para ele fixamente. Ele sentiu uma sensação estranha e olhou para seu rosto, ela tirou o véu. José sentiu um tremor, a boca ficou seca e a voz não saía. Ela estava pálida. Ele olhou em suas mãos e notou que uma delas estava sem o dedo. Era a morta que ele havia encontrado na estrada. José perdeu a direção e capotou.
No dia seguinte, o caminhão de José foi encontrado com ele morto. O anel não estava entre os seus pertences.
Sandra

terça-feira, 16 de junho de 2009

Operação Somália

Operação Somália - O Assassino

Autor: Carlos Donizetti
Sentado dentro do ônibus em movimento ele observava a rua. Não havia homensà vista àquela hora, ele seria o único se estivesse andando.
Para onde olhasse só via mulheres: algumas só, outras em grupo. O dia estava abafado demais e ele sentia a tensão que se apoderava sempre que faziaaquele percurso. Seu estômago doía e contraia-se à medida que o ônibus seaproximava do hospital.
Chegou. O ônibus havia parado ao lado do hospital. Saltei e caminhei rapidamente para o meu destino.
Ao se aproximar da porta de entrada, uma porta imponente feita de carvalhoantigo. Ele notou uma ambulância e alguns enfermeiros ajudando uma senhora adescer e sentar-se numa cadeira de rodas. Aquele sanatório era do tempo dodo império, mas muito bem conservado, pois sofrera ao longo dosséculos algumas reformas. O dono do prédio era descendente da antiga nobrezaportuguesa.
Deixando de lado a nova hóspede, dirigiu-se para o enfermeiro de plantão naportaria aquele dia. Enquanto entregava-lhe a ficha de entrada para assinar, o enfermeiro continuou vendo um TV de doze polegadas em preto e brancocumprimentando o visitante sem dar-lhe muita atenção.
-Bom dia senhor Erique?- Como está hoje?
-Estou muito bem, Miguel e o paciente como está?
-Passou na mesma!
-Muito bem!
Após esta breve interrupção, ele recebeu seu crachá de visita e seguiupelo corredor familiar.
Caminhava rápido cumprimentando todos que encontrava pelo caminho. Logoparou em frente a uma porta toda branca. Sentiu por um momento seu estômagocontrair novamente. Respirou bem fundo, empurrou a porta e entrou. O quartoestava na penumbra. Era uma suíte, e só havia uma cama com muitos aparelhosligados. No centro da cama um corpo. Olhando para o aparelho ligado ao narizpercebeu que o corpo se movia vagarosamente. A respiração estava normal.
Aproximou-se lentamente e puxou uma cadeira que sempre estava ali a suaespera. Sentou-se e ficou observando o peito subindo e descendo. Depois dealguns minutos teve coragem e finalmente levantou os olhos para encarar aquelerosto.
Um arrepio leve subiu por sua espinha ao se deparar com o rosto quasecompletamente deformado. Muitas cicatrizes e todos aqueles aparelhostornavam a aparência do doente assustadora.
Alguns minutos em silêncio e ele se inclinou para frente até quaseencostar os lábios no ouvido direito do doente. -Bom dia papai! -Como estápassando hoje?
Não obteve nenhuma reação.
-Sabe pai, o senhor não parece de todo ruim. Eu tenho uma grande notíciapara lhe dar hoje. Eu cheguei há seis meses aqui na Somália. Que lugarzinho nojento este. Mas não importa, eu mais uma vez consegui.
Ficou um pouco exaltado de repente e elevou um pouco o tom de voz.
-O que foi? Não acreditou que eu conseguiria?- Eu sempre consigo! Todos sãobaratas, baratas nojentas que eu esmago...
Percebendo que tinha se alterado voltou ao tom de quase sussurro. Nãohavia reação do homem deitado. Aquilo o deixava satisfeito a maioria dasvezes em que o visitava, mas em alguns dias aquela imobilidade o deixavafurioso.
Queria que o pai reagisse, que soubesse, que entendesse que este, não teriapodido acabar com ele, e que tinha sido justamente o contrário.
O pai estava em coma há seis anos.
Quando ele não estava trabalhando vinha todos os dias visitar o pai econtar-lhe o resultado dos seus trabalhos. Contava tudo em detalhes semprecom os lábios próximos a sua orelha direita. Quando se enfurecia socava ocorpo inerte do pai em locais que não deixassem marcas aparentes.
Ele não tinha um nome real, pois para a sociedade estava morto há muitosanos. No hospital era Erique. Somente seu pai sabia quem era. E seu paisabia que era um assassino.
Após torturar a mente quase alerta do pobre velho e progenitor, Erique levantou-se e saiu do hospital. Deixou o crachá na recepção e seu olhar cruzou com o de um homem de feições duras e muito atento com um terno claro muito bem cortado. De imediato, sua intuição lhe disse tratar-se de um policial, pois essa pessoa falava, andava, respirava e vestia-se como tal, e uma onda de ódio perspassou-lhe o espírito de imediato. Ficou atento à conversa dessa pessoa, o que prolongou um pouco mais sua saída, e soube que ele iria ao necrotério ver o corpo da última vítima do assassino. O policial olhou Erique com bastante atenção, seria mais um rosto entrando e saindo naquele hospital, todavia algo lhe chamou a atenção... O rosto daquele homem lembrava algo estranho, um animal talvez. Tudo não durou mais que poucos segundos, o suficiente para memorizar aqueles traços em sua mente de policial, coisa essa a que já estava acostumado devido aos longos anos de sua profissão. O policial seguiu o enfermeiro através dos corredores longos, brancos e até opressivos, e tentou evitar o forte cheiro de álcool, éter e doença. Na África é raro um hospital como aquele continuar funcionando em tão boas condições para a classe mais baixa da população; na verdade, seria mais condizente se o mesmo tivesse sido feito para a camada dos brancos da região, onde os negros seriam apenas meros funcionários. O necrotério ficava no subsolo, e vale a pena salientar que o corpo da vítima fora colocado lá por ordens suas. Em outras condições, seria entregue à família que trataria de sepultá-lo numa vala comum. Apesar de ignorados e excluídos, os corpos dos negros na Somália não poderiam continuar mortos e caídos no chão; os focos de revoltados e dissidentes aumentava cada vez mais e o confronto com a polícia e o exército era inevitável, aumentando cada vez mais o número de vítimas espalhadas pelo país. O som da bandeja sendo puxada tirou o policial de seus pensamentos, colocou o avental, as luvas e esperou o médico legista falar, enquanto lhe seguia as observações e conclusões. - Assim, ficaremos por demais íntimos, inspetor e, por favor, encontre logo esse monstro, pois estou farto de limpar as sujeiras dele! - Peter revelou com o ânimo de sempre. - Estou tentando, você sabe muito bem disso, mas o desgraçado parece um fantasma!-Indagou o policial. As pistas são ínfimas e o medo dos poucos que poderiam falar algo de concreto é maior do que poderíamos ouvir de palpável e coerente!-Falou o policial olhando o corpo com real interesse. - É, o medo é sua maior arma, e isso o tem ajudado muito! - O que temos hoje?- Mulher, aproximadamente trinta anos, com mutilações feitas no ventre e no peito.
Falou exibindo o corpo, fazendo o policial recuar ante o forte cheiro...- Hummmmm, pelo jeito, foi achado no lixo, hein!?- Olhe só quantos insetos saindo de sua boca e do nariz...- Pois é, ainda não dei um trato nela, sabe, muito serviço. Ela passou várias horas no aterro sanitário, além de estar morta a pelo menos umas vinte horas... Foi morta e desovada lá como os demais. O primeiro golpe foi na cabeça, e logo em seguida recebeu este talho na garganta e, depois, as demais perfurações no peito!- Que tipo de arma foi utilizada?- Hummmm, nada concluído ainda, mas tenho alguns moldes aqui, - veja, isso vai lhe dar uma idéia. - Peter afastou-se do policial e mostrou uma parte do material necróptico. - Veja, isto é do primeiro corpo, e lembra uma tesoura, e isto é do segundo, e lembra uma faca de lâmina curta, porém grossa e bastante afiada! O policial ficou olhando absortamente para o que lhe era mostrado e, de repente, ocorreu-lhe algo. - Onde estão seus instrumentos Peter?- Aqui senhor, - disse o legista, puxando um carrinho onde havia inúmeros instrumentos cortantes numa bandeja inox... - É, meu caro Peter, temos aqui dois fortes padrões, não acha?- Creio que esse assassino poderia muito bem ter utilizado, um a um, os instrumentos de trabalho de um médico legista!
Peter: - aparentemente sim detetive Lamar, mas eu descarto a hipótese de termos um Jack, o estripador aqui na Somália. Os outros assassinatos não têm as mesmas naturezas de ferimentos, e as vítimas deste assassino não são exclusivamente mulheres prostitutas, - não se esqueça que ele mata homens também.
Lamar: - você tem razão meu caro Peter, o corpo encontrado anterior a este, era de um homem que teve a cabeça decapitada por uma foice ou machado. Desculpe-me, tenho andado muito cansado e sentindo-me frustrado, pois já estou investigando este caso há seis meses e ainda não tenho uma pista se quer deste assassino. Enquanto isso, ele está lá fora espalhando pânico por toda a parte.
- Eu não investigava um caso assim há seis anos, o último foi o caso da família Herman que até hoje não foi esclarecido, se ao menos o velho Morgan não tivesse em coma teríamos alguma pista do que aconteceu aquela noite na mansão, já que ele foi o único sobrevivente do massacre.
- A propósito, quem era aquele homem que saiu agora pouco do hospital?
Peter: - o nome dele é Erique, já que você falou no caso do massacre da família Herman, coincidentemente, ele é o filho caçula do casal Herman, o velho Morgan não foi o único sobrevivente. Na noite do massacre ele viajou para a França para estudar medicina, quando soube do acontecido não deu mais notícia, não voltou para a Somália para acompanhar o enterro, e tampouco deu notícias, pensou-se até que ele estivesse morto.
- Chegou há poucos meses na Somália e hospedou-se num hotel, pois não quis ficar em sua casa onde ocorreu o massacre, sempre que pode vem visitar o pai.
Lamar: - muito estranho! Na época do crime ninguém ficou sabendo da existência deste Erique, supôs-se que o corpo carbonizado encontrado fosse o dele, mas como não foi possível identifica-lo, o caso foi arquivado e o cadáver enterrado como indigente. “Estranho!”
- Você sabe que hotel ele está hospedado Peter?
-Não. O homem é de pouca conversa, não gosta muito de ser visto porque na infância contraiu uma moléstia que deformou o seu rosto.
- Interessante! Bom Peter, eu estou cansado, vou para casa, cuide bem do corpo e comunique à família. Eu pegarei este assassino nem que seja a última coisa que eu faça.
Peter: - tudo bem detetive, boa tarde e cuide-se também! Este assassino não é comum,ele parece que brinca, joga e observa-nos. É como se nós fossemos a caça do predador!
O detetive Lamar era um perito em desvendar crimes sem solução e sentia-se frustrado por não ter nenhuma pista deste assassino. Infelizmente para sua desgraça ele estava perto de desvendar esse mistério, mas o quê ele não sabia é que quanto mais perto ficava de desvendá-lo, sua vida corria perigo.
Erique não era um assassino comum, ele tinha uma inteligência maligna, doentia, sabia matar com dor física e psicológica suas vítimas, não deixava nenhum tipo de rastro que o comprometesse ou o descobrisse. Ele era o que os psicanalistas chamam de sociopata: - ele pode matar inúmeras pessoas e, simplesmente, não se sentir mal com isso, - um sociopata não tem consciência e nem sentimento de culpa, - para um sociopata, matar é tão essencial como respirar!
O velho Morgan, seu pai, sabia disso, talvez, se pudesse matá-lo quando pôde, tê-lo-ia feito, e hoje não estaria preso em coma a uma cama de hospital vitimado pela maldade de Erique.
Por volta das vinte e uma horas o detetive Lamar chegou ao seu apartamento, abriu a porta, entrou e ao acender a luz, foi atacado pelas costas com um forte golpe de gravata em seu pescoço e desarmado também.
À frente de Lamar havia um espelho, e ele pode ver que o homem que o atacara era Erique, sim, aquele mesmo rosto deformado e aterrorizante que lembrava um animal de espécie desconhecida, o mesmo rosto que ele viu no hospital àquela tarde, e que usando apenas o braço direito, estrangulava-o, ao mesmo tempo em que o suspendia do chão pelo pescoço.
Lamar tentou de todas as formas defender-se do terrível inimigo,usava as mão, esperneava, mas tudo foi inútil, pois Erique tinha uma força sobrenatural. Diante de tamanha força, Lamar sucumbiu até perder os sentidos.
Ao recobrar a consciência, ainda meio tonto, sem noção de tempo, Lamar encontrava-se na mansão da família Herman, onde ele há seis anos investigou um crime que abalou toda a Somália. Ele estava acorrentado pela perna direita à parede em um dos cômodos da casa.
De repente uma voz assustadora deu-lhe as boas-vindas: - era Erique, e trazia consigo empurrando numa cadeira de rodas o velho Morgan, seu pai, e algumas ferramentas usadas em obras de alvenaria.
Erique: - boa noite detetive Lamar, antes de tudo, quero dizer que o senhor não sairá daqui com vida. – Pode gritar, berrar o quanto quiser porque ninguém o ouvirá.
- Vejam só! O senhor achou mesmo que eu iria permitir que o senhor atrapalhasse a minha diversão matando as pessoas? – Nããão!!!
- O seu amigo Peter cuidou muito bem do meu pai estes últimos seis anos, mas o segredo de um bom assassino é agir sem ser percebido, foi assim que tirei o meu pai do hospital sem ser visto. E tem mais, ele não encontrará naqueles corpos nenhuma prova que me incrimine, - mas se ele não entender a mensagem que eu vou mandar para ele, este, terá o mesmo destino do senhor. Ah! Ah! A! Ah! Ah! Ah!
- Lamar ouvia calado e aterrorizado o monstro falar!
Enquanto isso, Erique dobrou uma parte do tapete que ficava no meio da sala, pegou a picareta e arrebentou uma parte da cerâmica do piso. Na seqüência começou a cavar uma fossa no chão.
- Lamar ficou olhando apavorado sem entender o que aquele louco queria.
- Erique cavou uma fossa de dois metros de comprimento e sessenta centímetros de profundidade.
Erique: - bem detetive, antes de continuarmos a brincadeira, eu preciso esclarecer e confessar algumas coisas do nosso passado para o senhor.
Primeira: - eu sou o assassino que aterrorizando a Somália nos últimos seis meses, e o motivo é o simples prazer de matar!
Segunda: - há seis anos atrás, eu fui o responsável pelo massacre da minha família nesta casa.
- Ora, meus pais sempre rejeitaram-me devido a minha doença, desde a infância à adolescência eu nunca vi a luz do Sol, trancafiado no maldito porão. Enquanto meu irmão mais velho Erique era o centro das atenções.
- Nesse período de tempo sucumbiu em mim tudo que restava de bom, peguei ódio por toda a humanidade e jurei que mataria minha família e todas as pessoas que me rejeitaram ou que viessem a atrapalhar os meus planos.
- Um dia, este velho aqui esqueceu a porta do porão aberta, eu saí, peguei a machadinha e fui ao quarto do meu irmão Erique. Acordei o infeliz, pois queria ver o terror nos olhos dele antes de matá-lo.
- Trêmulo, Erique implorou para eu não mata-lo, mas com um golpe certeiro na testa eu despachei o infeliz para o inferno.
- Os próximos seriam os meus pais, mas com eles seria diferente, eu queria fazê-los sofrer para eles pagarem os maus tratos que me infligiram, apanhei o taco de baseball do meu irmão e dirigi-me ao quarto deles.
- Sabia que se os acordasse não poderia matá-los de uma vez sem alarmar a vizinhança, então, dei o primeiro golpe na cabeça de meu pai, e o segundo, na cabeça da minha mãe, e depois foram inúmeros golpes na cabeça de ambos.
- Satisfeito! O passo seguinte era fazer com que parecesse um assalto seguido de morte, mas como precisava da identidade de Erique e ninguém sabia da existência, resolvi atear fogo no corpo do meu irmão.
- Eu sabia que ele viajaria para França por um tempo indeterminado, e com o corpo completamente carbonizado, ninguém saberia que se tratava de Erique, então eu poderia agir sem que a polícia soubesse de quem se tratava. O próximo passo foi sumir com os pertences de valor da família, apagar as minhas impressões digitais e sair de casa o mais rápido possível.
- Passado pouco tempo antes de viajar para França, soube pelos jornais que meu pai tinha sobrevivido de forma milagrosa a ação de uma gangue que assaltou nossa casa,- mataram sua esposa e carbonizaram um corpo que não foi possível ser identificado. Os bandidos levaram jóias e dinheiro, mas não deixaram nenhuma pista, e embora tenha sobrevivido, o senhor Morgan Herman encontrava-se em estado de coma profundo.
A polícia tentou localizar o filho Erique, mas não obteve sucesso. – Ao obter estas informações, ainda pensei em ir ao hospital para dar cabo ao meu trabalho, mas hesitei, decidi viajar para a França e ficar lá por uns tempos até a poeira baixar aqui na Somália.
- Na França cometi inúmeros homicídios que também ficaram sem solução. Passados seis anos, retornei à Somália, visitei nossa mansão e encontrei tudo igual ao passado, - confesso que tais recordações causaram-me um certo tormento, mas nada que não pôde ser superado com o passar do tempo.
- Neste período comecei uma série de homicídios aqui na Somália, tudo estava indo bem até o senhor começar a se intrometer, - mas suas intromissões acabam aqui. Enquanto ao meu pai, não repetirei o mesmo erro que ele cometeu comigo, não deixarei passar esta chance de matá-lo, afinal, ele não passa de um cadáver vivo e eu só preciso enterrá-lo.
Então, Erique pegou o velho Morgan da cadeira de rodas, deitou-o na cova que ele havia cavado na sala, cruzou seus braços sobre o peito e começou a enterrar o velho.
- Lamar assistia àquela cena, tácito, aterrorizado, mas então, criou coragem e gritou:
- Quem é você maldito!?
E o homem que até então chamava-se Erique Herman suspendeu sua atividade por um instante e falou:
- Meu nome é Isaac Herman, filho caçula da família Herman e acabarei com qualquer um que atravesse o meu caminho.
Lamar então começou a tremer de medo e a berrar pedindo em vão por socorro, pois ninguém poderia ouvi-lo.
Isaac Herman jogou a última de terra na cova de seu pai, arranjou cimento, areia, uma cerâmica idêntica ao daquele piso, preparou uma argamassa, assentou as de maneira similar ao restante da casa, limpou todo o local e concluiu a sua tarefa.
Na manhã do dia seguinte, o hospital estava ema alerta com o desaparecimento do velho Morgan, - ninguém vira nada de suspeito durante a noite. Peter encontrava-se no necrotério do hospital esperando o detetive Lamar quando uma equipe de enfermeiros chegou apreensivo com um latão de lixo endereçado a ele.
Peter viu que o conteúdo da lata era muito pesado porque os enfermeiros carregavam-no com bastante dificuldade.
Perguntou do que se tratava, mas responderam apenas que a lata apareceu à porta do hospital endereçada a ele e ninguém viu quem a deixou.
Abriu a tampa, pediu ajuda aos enfermeiros para tirar um saco plástico de cor preta de seu interior e colocaram-no sobre a mesa de autópsia.
Ao abrir o saco, o terror tomou conta de Peter e dos enfermeiros, pois no seu interior achava-se o corpo do detetive Lamar completamente picadinho!
O velho Morgan foi sepultado ainda com vida na mansão Herman, - o detetive Lamar foi esquartejado vivo por Isaac Herman,- Peter e os enfermeiros não sabem quem é o maníaco homicida,- mas nós sabemos!
Isaac Herman continua a solta espalhando pânico pela Somália!
Há alguém corajoso ou louco o suficiente que topa encarar a operação Somália- o assassino, e deter este monstro?

Fim

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